
É Válido frisar que em nenhum outro lugar de Xapuri os visitantes vão encontrar tanta informação sobre a história do municipio como na Casa Kalume, antiga casa aviadora localizada no centro comercial da cidade que durante o século passado abasteceu grande parte dos seringais do município, na época, um dos maiores produtores de borracha do Estado. O local passou a ser nos últimos anos um dos pontos de visita obrigatória para turistas, estudantes e pesquisadores que vão ao município.
Nos dias atuais, a Casa Kalume não "avia" mais os seringais nem compra a produção de borracha e castanha, como fazia em épocas mais favoráveis, do ponto de vista econômico, quando a casa comercial chegou a enviar em um único carregamento cerca de 200 toneladas de borracha para Manaus, como pode ser comprovado em antigas guias de embarque guardadas até hoje.
Aberta desde 1916, a antiga Casa Kalume foi transformada em um museu informal pelo paulista de Corumbataí Antônio Assad Zaine, o "Prezado", como é carinhosamente conhecido pela população da nossa cidade. Nesse ano ele completa 81 anos, dos quais 53 inteiramente dedicados a Xapuri, o velho "Prezado" se tornou uma das figuras mais significativas para a preservação da história e da memória do município. "Ao chegar aqui percebi que essa era a terra em que nasci para viver. Foi uma paixão imediata pelo Acre que senti que finquei raízes e daqui não pude mais sair", explica ele.
Com uma dedicação incomum, ele conseguiu preencher o vazio deixado pela falência do modelo de atividade comercial baseada no sistema de aviação - troca da produção da borracha e outros produtos extrativistas por mercadorias - com a criação de um museu, onde estão reunidos elementos diversos da cultura do povo acreano, que organizados de forma cronológica retratam a trajetória histórica da cidade, desde a ocupação pelos primeiros nordestinos que aqui chegaram, passando pela Revolução Acreana, até os acontecimentos mais recentes do cotidiano social e político da "Princesinha do Acre".
Antônio Zaine convive com um grande número de objetos raros que vão desde rifles Winchester calibre 44, apelidados de "papo-amarelo", trazidos pelos grandes seringalistas durante a Revolução Acreana, espadas, instrumentos usados pelos seringueiros na extração do látex, artefatos de origem indígena, vasos vindos da Europa no início do século passado e até mesmo instrumentos de uso doméstico, como antigos ferros de passar à brasa, fogões de lenha e outros itens que revelam o estilo de vida levado pelos nossos antepassados.
Outro acervo que chama bastante a atenção de quem visita o museu é o de recortes de revistas e jornais antigos que relatam o desenrolar dos acontecimentos políticos e sociais da cidade e do Acre, retirados das mais antigas publicações do Estado. Algumas fotos mostram locais históricos de Xapuri ainda engatinhando, como, por exemplo, a construção do Instituto Divina Providência, administrado pelas freiras da Ordem das Servas de Maria Reparadoras, que entre os anos de 1927 e 1971 foi referência educacional para toda a Região Norte.
Como o espaço da casa comercial foi se esgotando, Antônio Zaine passou a utilizar o velho armazém de borracha e a casa da sogra Linda Gomes Fonseca, já falecida, situada na Rua Dr. Batista de Moraes, para acomodar o crescente número de objetos que a cada dia passam a fazer parte do acervo, formado principalmente por objetos antigos que foram abandonados por seus donos nos quintais das casas comerciais e residências localizadas na área mais antiga da cidade. Todo objeto antigo encontrado por um morador transforma-se, nas mãos do "Prezado", em uma peça do museu.
Antônio Zaine busca, atualmente, conseguir tornar oficialmente a Casa Kalume um museu, uma vez que, mesmo sem praticar a atividade comercial de forma efetiva há vários anos, ainda recaem sobre o estabelecimento os encargos tributários referentes à empresa Abib Kalume & Cia. Ltda. Pretende elaborar um projeto para apresentar ao governo do Estado, através da Fundação Elias Mansour, para restaurar e adequar o espaço que ele considera impróprio para guardar tantos elementos relacionados à história de Xapuri e do Acre.
"Uma história rica como essa não pode se perder pela falta de espaço e de um lugar mais adequado para guardar tanta memória. Espero que as autoridades se sensibilizem para me ajudar a valorizar essa história", diz, em tom de apelo, Antônio Zaine.
Uma história de amor e dedicação ao Acre
O paulista Antônio Assad Zaine chegou ao Acre no dia 9 de julho de 1954, segundo ele mesmo conta, a convite de seu primo Jorge Kalume, que depois seria governador do Acre (1967-1971), simplesmente para pescar. Ao aqui se apaixonou pelas belezas da região e logo adotou a cidade como a terra de coração, onde constituiu família (casou-se com a professora Déa Gomes, com quem teve dois filhos - o ex-vereador César Gomes Zaine e a professora Terezinha Zaine Sarkis) e estabeleceu-se definitivamente.
Trabalhou durante muitos anos na empresa da família Kalume, mas desde cedo já começou a se dedicar a guardar os registros da história da cidade e do Estado que o proporcionaram criar o museu da Casa Kalume ou o Museu do Prezado como muitos dizem, onde permanece, mesmo que informalmente, a escrever a história de Xapuri. Seu trabalho e dedicação ao município e ao Acre já foram mostrados para todo em Brasil através do programa Repórter Record, da Rede Record de Televisão.