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domingo, 11 de julho de 2010

Professor fala de condição sinequanon para o ensino de qualidade

Por trás dos dados do Ideb, pesquisa revela total desinteresse e o estacionamento do ensino médio no Acre.

Fonte: www.ac24horas.com.br
Depois de toda euforia nas comemorações dos dados do Ideb, publicados no início da semana pelo Ministério da Educação (MEC) e comemorados pelo Governo do Estado, como um título de Copa do Mundo, o jornal ac24horas procurou o professor Eraldo Assumpção, graduado pela Universidade Federal do Acre em Ciências Exatas – Matemática e Pós – Graduado em Gestão Escolar pela Faculdade Gama Filho - Rio de Janeiro, Teologia pela Faculdade Integrada da Fama - Rio Branco, com Curso de Extensão feito pela UNESP – Meio Ambiente – São Paulo, para sabermos até que ponto a festa na Floresta pode ser entendida como um avanço educacional.

Carioca de origem e acreano por opção, como detalha em seu Orkut, o “bem casado professor de matemática” foi pontual: “é preciso uma maior dedicação entre pais, professores, inspetores, alunos, merendeiras, etc.” Ao avaliar a aplicação das provas do Ideb, o professor aponta falhas na metodologia escolhida pelo MEC e diz que os índices das primeiras séries são básicos, não podem ser comparados com o ensino fundamental II e o ensino médio.

- O ensino médio parece ser o grande desafio dos governantes. Estudar pra que, se agente vê na televisão corrupção por todos os lados, principalmente em concursos públicos – protestou. Confira na íntegra a entrevista:

ac24horas – Longe da euforia midiática, os dados do Ideb que não foram mostrados na mídia, apontam total desinteresse dos alunos em desenvolver tarefas dentro e fora da sala de aula. Até que ponto isso é uma realidade?
Eraldo Assumpção - Com certeza. O desinteresse dos alunos em sala de aula vem da não motivação dos professores que insistem em contemplar os alunos com conteúdos chatos e repetitivos, sem nenhuma ligação com o cotidiano, o silêncio absoluto e autoritário imposto em sala de aula. O aluno tem que falar e muito, o professor apenas serve como regente do assunto para que não fuja do contexto. Quando o professor diz: “cala boca menino”. “olha só se não parar de falar vou dar uma suspensão”. “Olha quando eu estiver falando, você cala a sua boca.” Isso não é nada mais do que atrofiar um aluno e não deixar que ele seja crítico. O professor tem que ter autoridade e não ser autoritário. O desinteresse explicita por aquilo que se pretende ensinar ou qualquer outro comportamento inadequado, por vezes não são mais do que chamadas de atenção ao professor sobre os seus métodos de ensino ou sobre as estratégias de relação na aula, é o mesmo que dizer: “Professor sua aula está uma merda”. O professor deve ser explícito e justo com o aluno, mostrar que o estudo só vai fazer bem, intelectualmente falando, e cumprir as regras sem alteração, pois alterar as regras pode causar indisciplina.

ac24horas – O senhor defende então, um outro comportamento dentro de sala de aula, uma melhor relação entre professor e aluno?
Eraldo Assumpção – Há a necessidade de conversa em sala de aula para relatar assuntos exteriores à sala, mostrar que faz parte do grupo, mostrar oposição à autoridade do professor, esclarecer ou compreender o que o professor acabou de dizer, mostrar o seu descontentamento com a disciplina e/ ou o professor. Etc.

ac24horas – Em recente pesquisa, 21,5% dos alunos entrevistados afirmaram que faltam aulas porque não querem ir à Escola? O que falta para estimular o acesso do educando ao colégio?
Eraldo Assumpção – O objetivo do estudo é em longo prazo. Os meninos querem usar um tênis Nike é agora, já. Se não criarmos um mecanismo de incentivo onde o aluno possa ver resultados em um curto prazo de tempo, teremos um processo de ensino desmotivado, vago e fingido. Veja bem, “ Meninos, estudem bastante que daqui a 8 anos vocês estarão formados e bem de vida.” Isso quando se trata de um aluno da 8.ª série. Como se o aluno saísse da universidade direto pro trabalho dos sonhos. A conjectura econômica, social e política ainda não nos dão esse privilégio. O aluno sai da universidade e ainda vai ter de ralar por um bom período de tempo para passar num concurso publico, se caso queira ganhar melhorzinho, pois o setor de indústrias ainda está na onda de só ganhar, ganhar e ganhar. Nada de distribuir.

ac24horas – E o que o senhor aponta como alternativa para estimular esse aluno?
Eraldo Assumpção - Entender em primeiro lugar que não existe aluno perfeito. Criar um ambiente bom e agradável em sala de aula também faz parte do processo. É mais fácil um pitbul largar a perna de uma criança do que você vê um professor receber um aluno em sala de aula com um sorriso estampado no rosto. Primeiro que o professor sempre chega depois que os alunos já rasgaram as cortinas, quebraram carteiras, colocaram taxinha na cadeira do professor, etc. Veja bem, na maioria das escolas públicas estudam os alunos que não podem pagar por um colégio particular de renome. Logicamente, ali se estuda os alunos de baixa renda. E junto com a baixa renda vêm as diferenças sociais.

ac24horas – o senhor poderia dar um exemplo
Eraldo Assumpção - Veja um exemplo: O aluno em sua residência antes de ir à escola, presenciou sua mãe sendo espancada pelo companheiro porque saiu para arranjar alguns trocados, fazendo unhas, para que ele (companheiro) pudesse comprar uma trouxinha de maconha. Não conseguindo apanhou. Você acha que uma criança dessas tem condições psicológicas para estudar? E quando chega à escola ainda é mal tratada, no sentido pedagógico, por colegas de classe ou até mesmo por professores estressados. Quando aflora a indisciplina no aluno, é porque ele está rogando por socorro. “Por favor, alguém me acuda pelo amor de Deus...”. Aí onde entra no mínimo, uma visita em sua residência para saber o que está passando na vida particular do aluno.

ac24horas - Segundo pesquisadores da área de educação, o que mais repele os alunos é o conteúdo oferecido no ensino médio, que, na visão dos jovens, não tem relação com as necessidades e interesses da faixa etária. As disciplinas ensinadas são generalistas e, para os estudantes, parece não ter impacto prático algum em suas vidas. Isso acontece principalmente nas aulas de matemática?
Eraldo Assumpção - Sem dúvida nenhuma, para alguns professores de matemática, complicar a matemática é subterfugiar a sua incompetência. “Ouvi muito professor de matemática, no tempo de acadêmico, ao me reportar perguntando: ” Professor de onde saiu esse cálculo?“. E ele me responder: “Daqui da ponta do giz”. Não respondia por pura ignorância ou por pura incompetência. Li uma entrevista recentemente da Secretária de Educação do Estado do Acre, a professora Maria Correa, dizendo que: “Matemática é o calcanhar de Aquiles nas escolas acreanas”(sic).

ac24horas – Mas por que a matemática e não as outras disciplinas?
Eraldo Assumpção - As dificuldades de aprendizagem bem como as deficiências no que concernem as habilidades e competência no ensino da matemática constituem, já há algum tempo, preocupação para os estudiosos cujas investigações são dedicadas às questões inerentes à aplicação de metodologias no ensino da matemática, assim como ao refinamento da compreensão desta ciência tão discriminada pela exatidão de seus métodos. Segundo alguns educadores, a falta de tempo leva-os a certos impedimentos de modificar sua prática pedagógica tendo como referencial um plano que sane as dificuldades diárias. É esse obstáculo na vida profissional do professor, especificamente o de matemática, que o faz viver em constante reflexão acerca de quão grande problemática.

Ac24horas – Professor, a matemática é tida como um bicho papão, o senhor certamente irá dizer que não que ela é simples.
Eraldo Assumpção - A matemática é simples. Temos que descomplicar a matemática. Se o aluno não assimilou o conteúdo, mude a metodologia, se persistir o não entendimento, monte uma estratégia para fora da sala de aula. Certa vez um aluno não entendeu o cálculo da velocidade média, um cálculo bem elementar. Na minha concepção, o aluno não poderia ir para casa com essa dúvida, ou seja, o aluno não pode ir para casa com nenhuma dúvida. Nas aulas seguintes construímos um carrinho de rolimã (rolamentos) e de posse de uma trena e cronômetro fomos ao pátio da escola e medimos um espaço e cronometramos o tempo que o carrinho de rolimã levou, sendo empurrado por um aluno e lógico, eu na garupa, para se chegar ao final do trajeto. Em seguida o aluno entendeu de forma prática que a velocidade média é o espaço percorrido dividido pelo tempo. Isso se falando do ensino fundamental. Agora para se ter um bom desempenho no ensino médio pertinente a matemática, é bom que se faça uma boa sétima e oitava séries. E ponto final.

Ac24horas - Os dados revelam que os alunos das primeiras séries, 1ª a 4ª série, estão aprendendo mais matemática e português. O senhor concorda. Como matemático qual a diferença de conteúdo entre os níveis de aprendizagem e porque nas séries finais, os resultados não são os mesmos?
Eraldo Assumpção - A diferença é que o aluno, nas primeiras séries, aprende o básico. Os professores pedagogos têm uma só turma o ano inteiro, em torno de 40 alunos, com isso há muita facilidade de acompanhar o desempenho específico de cada aluno, o que diferencia dos professores de ensino fundamental e médio que têm em torno de 700 alunos cada professor. Acompanhar cada um, fazendo um mapeamento interespecífico, seria humanamente impossível. Entretanto, nem todos os alunos das primeiras séries conseguem chegar com a habilidade e competência respectiva à série seguinte, que é a 5.ª série. A problemática é que o aluno passa para o ensino fundamental II sem conhecimento científico, isso se falando de matemática. No meu entendimento, o professor de 1.ª a 4ª tem de entender do conhecimento de matemática, não só a parte de metodologia e didática. Assim como o professor de ensino fundamental e médio também tem de conhecer bem a metodologia e didática da matemática. Pra ficar mais justo é o professor pedagogo ser matemático e o professor matemático ser pedagogo. O ensino médio parece ser o grande desafio dos governantes.

ac24horas – Embora o governo comemore como a conquista da Copa do Mundo, os últimos dados do Ideb mostram que no nível médio, o Acre manteve a mesma média de crescimento nacional, de apenas 0,1 e com média de 3,5, porque esse ainda é um bicho papão na educação de todo Brasil?
Eraldo Assumpção - Estudar pra que, se agente vê na televisão corrupção por todos os lados, principalmente em concursos públicos. Veja só, há fraude em concurso público de órgãos como Polícia Federal, Ministério Público, Justiça, ENEM, desvio de merenda escolar, desvio de dinheiro do FUNDEB. Você acha que essas coisas não influenciam na cabeça dos meninos? Para se ter uma boa educação, temos que nos certificarmos de que ninguém está metendo a mão no dinheiro público, isso é uma condição sine qua non para o ensino de qualidade.

Ac24horas – Como especialista o senhor acredita que as provas do Ideb medem realmente o ensino público?
Eraldo Assumpção - A avaliação institucional como: Prova Brasil e SAEB é que compõem, fundamentalmente, o índice de desempenho da educação básica. O IDEB deveria ser aplicado, além do ensino básico, também no o ensino médio, mas da seguinte forma: ao final de cada série 1.ª, 2.ª e 3ª do EM, aplicar-se-ia uma avaliação. Ao final do ensino médio, se processaria a média nas três últimas séries do EM e essa média seria o ingresso do aluno nas universidades. Contudo, estaríamos avaliando também o ensino em cada série.

Ac24horas – Professor, podemos afirmar que os resultados são ainda mais alarmantes?
Eraldo Assumpção - Eu não posso afirmar contundentemente se os resultados são mais alarmantes, até porque não tenho esses dados, mas posso afirmar é preciso uma maior dedicação entre pais, professores, inspetores, alunos, merendeiras, etc.

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