Acredito que hoje acordei meio nostálgico, e a primeira coisa que me surpreendi ao ler a liuturgia diária é que percebi que já estamos no penultimo dia de junho, mês de festas juninas que tradicionalmente em Xapuri “pipocam arraiais por todos os lados” e estranhamente esse ano arraiais, quadrilhas, comidas típicas e outras tradições ligadas a época estão escassos, para não dizer que não ocorreu um seguer durante todo o mês. O que está acontecendo? Perdemos a memória? Ou simplesmente estão esquecendo das raízes culturais da nossa cidade?
Ocorreu-me também as lembranças dos típicos arrais e famosos da União Baiana, comunidade a 30 km de Xapuri pela BR 317, que na igreja Santa Luzia, reunia a comunidade rural desde o entroncamento ao araxá, eram noites de intensa alegria onde colonos, fazendeiros, seringueiros, autoridades religiosas e a juventude divertiam-se ao som da sonfona tocada pelo Pedro Macedo e seus companheiros. Comíamos muita pamonha, cural, milho assado, biscoitos de araruta, porco assado, aos adultos quentão, caipirinha e muito, mas muito vinho Dom Bosco mesmo. Presenciei muitas vezes a caminhada pelas brasas da Foqueira pelos tradicionais baianos e mineiros daquele lugar.
Lembrei-me que mesmo garoto e durante boa parte de minha adolescência ficávamos nesses arraiais brincado de forma saudável, sem álcool, cigarro ou outras drogas, além dos namoricos escondidos o que mais gostávamos era mesmo de ficar acordados até quase de manhã até que as tradicionais fogueiras de quase três metros estivessem somente com cinzas quentes para que pudéssemos assar batatas doces e milho verde duramente cultivado para aquela ocasião.
Eram épocas felizes que me fazem relembrar de pessoas muito trabalhadoras que ajudaram a moldar o estilo da agricultura e da cultura mineira, paranaense, baiana e mato-grossense com a já rica cultura local, pessoas como o senhor Luiz Apolinário, José Júlio, Nicesa, Henrique, Dr. Arlindo, Sebastião Tigre, José Leite, Zico Almeida, Ambrósio, Padre Danilo, Familia Maciel, Seu Arthur, Quintino Almeida, França, Familia Pereira, Sergio Persigati, Jonas, Romulado, Famlia Alves e claro minha familia como tantas outras. Famílias estas que praticamente desapareceram do município com algumas exceções.
Na cidade falar de cultura caipira e não lembrar da grande precursora seria um crime, quem não lembra com muitas saudades da Dona Raimunda Marcelino, aliás que na minha idade nunca brincou quadrilhas ou de fitas com a Dona Raimunda Marcelina nos tradicionais arraiais da Igreja Católica? Quem não recorda daqueles arrais que cada escola fazia onde era mais um momento em que toda a comunidade escolar, pais, alunos, professores, funcionários e comunidades tinham para se encontrar e bater um bom papo.
Os arraiais em Xapuri antes de mais nada eram momentos e lugares de intensa ordem democrática, onde desde as famílias mais tradicionais às mais “desconhecidas” se misturavam, onde autoridades e aqueles que causam dores de cabeças a elas se relacionavam cordialmente, onde brigas políticas eram esquecidas, discussões religiosas eram deixadas para depois, ou seja eram momentos de alegria saudável de harmonia.
Lembrei dos primeiros festivais de cultura caipira que inclusive este blogueiro juntamente com mais seis pessoas organizou no ano de 1993, contando com pouco apoio de algumas pessoas e muita força de vontade, recebemos quadrilhas 5 municipios vizinhos, tempos de Nozinho, Jubilene e sua incansável irmã, de Viviane Tenório, Gutemberg, Rosa (In memorian) entre tantos outros amigos.
Mas a ficha caiu.. Aliás os créditos.. Praticamente não temos mais nada de identificação com a cultura caipira isso porque não estamos fomentando a necessidade de passar aos jovens xapurienses de que é necessário regatarmos e mantermos algumas origens. Temos fortes laços tradicionais com a cultura nordestina e a cada dia estamos esquecendo desse alicerce que nos tornou um povo aguerrido, hospitaleiro, solícito e feliz com a vida. Percebo que não somente a cultura caipira mas outras culturas populares também estão se esvaindo, podem até dizer que é falta de apoio institucional, falta de recurso, mas infelizmente temos que observar que nos últimos anos fizemos uma dura ligação de CulturaXdinheiro e isso foi a sentença de morte de atividades culturais principalmente em Xapuri.
Devemos sim inovar, buscar outras coisas interessantes, mas jamais esquecermos das nossas tradições, talvez daqui a alguns anos, alguns de nossos jovens, filhos e garotada em geral nem saiba mais oque é festa junina.
É triste mas infelizmente é a realidade.
Interessante que o Neto e eu conversamos sobre assunto há poucos dias e comentamos justamente isso. De que os arraiais em Xapuri ano passado já foram escassos mas que esse ano quase inexistentes. É uma pena. Também lembro com saudades...
ResponderExcluirParabéns pelo post, caro professor Joscíres.
ResponderExcluirLamentavelmente percebemos que um dos melhores períodos do ano aqui em nossa cidade deixou de existir, os tradicionais arraiais das festas juninas que depois de um tempo passaram a ser "julinas", "agostinas" etc.
Alguns anos atrás, tive oportunidade de visitar outros municípios nesse período e a constatação era, pra mim, óbvia, ou seja, Xapuri sempre teve os melhores arraiais. Engraçado, vez por outra a gente bate na mesma tecla: Xapuri já teve algo.
Fazendo uma rápida analise, as escolas sempre foram as mentoras dessas festas quando não recebiam verbas mantenedoras de suas ações educacionais e, na tentativa de arrecadar suplementos faziam apelos à sociedade para participar de seus eventos, no que ela atendia. Hoje com os programas de auxílio de verbas para que a escola aplique de forma democrática, ou seja, dinheiro direto na escola, ela deixou de envolver a sociedade na beneficência.
Só que por causa desse mecanismo criou-se algo maior entre as escolas, famílias e comunidade, justamente a surgimento do aspecto cultural durante anos, os grandes arraiais.
Como já disse, naqueles tempos a comunidade respondia os chamados das escolas e participava em peso das atividades juninas, tomara que agora as escolas atendam o chamado da comunidade, de fazer algo para que essa tradição não se perca no tempo.
Na verdade essa obrigação não é unicamente das escolas, mas do município, dos bairros etc.
Aproveitando esse precioso espaço, brevemente a Pastoral Familiar irá organizar um arraial em frente a Paróquia São Sebastião.
Aguardem, Abraços!!