Escrito por Waldemar Rossi
A imprensa vem nos contemplando com notícias, artigos e entrevistas sobre a crise financeira que abala o mundo capitalista (por acaso tem outro mundo?). Entre tais comentários, duas idéias básicas se opõem: a) trata-se dos estertores do modelo, o capitalismo estaria chegando ao seu fim histórico; b) são crises habituais do sistema, portanto, trata-se de mais uma fase passageira e o capital se recompõe. Claro que existem posições que contemplam parte de cada uma dessas duas visões, relativizando-as. Essas, porém, têm sido bem mais escassas.
Entretanto, o que deveria merecer maiores comentários dos analistas, pelo ponto de vista do interesse popular, são as saídas que os governantes tentam encontrar para as mega-empresas envolvidas em grandes e espetaculares jogadas financeiras, conscientemente sob riscos enormes. Os grandes enfoques têm sido sobre os mega-empréstimos (ou doações?) que os respectivos Erários Públicos vêm lhes fazendo a fim de evitar suas falências, sem mostrar quem, de fato, estará pagando a conta da bancarrota financeira. Bancarrota que envolve empreiteiras no ramo da construção civil e os grandes bancos que sustentam seus grandes empreendimentos. Este comentário, sobre quem paga a crise, não está aparecendo na mídia, pois não interessa ao capital e nem aos governos a ele vendidos.
O governo alemão, por exemplo, agiu rapidamente para evitar que a Hypo Real State (empresa que faz empréstimos para construtoras erguerem escritórios e hotéis de luxo) entrasse em falência. Concedeu-lhe dois mega-empréstimos: 35 bilhões de euros de início, seguidos de outros 15 bilhões, e que não resolveram a parada. Segundo o Ministro das Finanças alemãs, o empréstimo visa evitar que "o setor bancário entre em colapso". A Espanha está disponibilizando mais de 20 bilhões de euros; Irlanda, Portugal, Suécia, Islândia e Dinamarca seguem o mesmo caminho. O conjunto dos países da CEE (Comunidade Econômica Européia) já garante cerca de 1,6 trilhão de euros (cerca de 4,8 trilhões de reais). Mas esses administradores do capital não estão anunciando que todo esse dinheiro sai da arrecadação tributária, portanto, dinheiro que sai compulsoriamente do bolso dos seus contribuintes.
E no Brasil, o que vem acontecendo? Como de praxe, o governo negando que haverá socorro aos bancos. Mas também como de praxe, vai tomando medidas para que o dinheiro do orçamento nacional esteja à disposição de empresas que tiverem dificuldades financeiras: menos de uma semana depois de o governo negar a existência de um pacote para minimizar os efeitos da crise bancária internacional no Brasil, o presidente Lula deu ontem carta branca para o Banco Central implementar uma série de medidas para socorrer bancos e empresas com problemas.
Além de fazer leilões de linhas de financiamento em dólar para suprir exportadores, o BC poderá "comprar" carteiras de crédito dos bancos e conceder empréstimos em moeda estrangeira para instituições que precisarem. (caderno dinheiro, Folha S.Paulo, B1– 07/10/08).
É a chamada farra financeira com dinheiro do povo. Durante todos esses anos, o governo brasileiro fez grandes concessões às empresas exportadoras para que seus lucros aumentassem extraordinariamente, assim como remeteu mais de 800 bilhões de reais para os bancos. Enquanto dizia para o povão que era necessário reduzir os gastos do governo para garantir equilíbrio orçamentário, cujos cortes sempre foram efetuados sobre a área do orçamento destinada aos setores sociais e ao desenvolvimento interno – aquele desenvolvimento econômico que se faz sobre os potenciais nacionais e que não fica dependente do humor do capital externo. E o povo vinha pagando caro para que tal política vingasse. A reforma tributária, por exemplo, facilitou a vida das empresas diminuindo seus tributos e jogando o ônus para o povo consumidor, mantendo assim a elevação da arrecadação. Tais empresas acumularam lucros incríveis, enquanto o padrão de vida do povo vem caindo progressivamente.
Agora que aflora mais uma crise do próprio sistema – que muitos analistas dizem ser passageira – nossos governantes tiram mais dinheiro pertencente ao povo para doá-lo aos que se dizem "atingidos pela crise". Assim, as áreas que dizem respeito à qualidade de vida da população passarão por novos cortes. Não tinha dinheiro para fazer a constitucional reforma agrária, não tinha dinheiro para investir nos carentes setores da saúde e da educação públicas, assim como não tinha para a preservação do meio-ambiente, para o saneamento básico, para a construção das ferrovias nacionais... Mas tem dinheiro DO POVO para entregar de mão beijada aos exploradores do povo.
E o povo desinformado, ou mal informado pela nefasta mídia, vai dando cacife para nossos governantes. São crimes que clamam por justiça!
Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.
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