Na nova série do Jornal Nacional, os repórteres Alberto Gaspar e Laércio Domingues estiveram em quatro estados, rodaram mais de oito mil quilômetros em quase seis semanas de viagem, para mostrar como vivem essas 25 milhões de pessoas.
Veja o relato do repórter: Viajamos por quatro estados, mais de oito mil quilômetros, foram quase seis semanas. Isso, porque voamos na maioria dos trechos. Navegando por rios cheios de curvas, como o Purus, levaríamos vários meses. Do alto, a imensidão verde que atrai os olhos do mundo inteiro. Embaixo, 25 milhões de brasileiros.
“Quando falamos de Amazônia ligamos à natureza. No entanto, 70% da população da Amazônia mora na cidade”, diz o geógrafo José Aldemir de Oliveira.
Mais do que a floresta, a Amazônia urbana foi o foco da jornada. Visitamos quatro capitais, quinze cidades ao todo, fora os povoados. Viemos conhecer brasileiros com uma visão diferente do que é cidade.
“Eu me considero um homem da floresta. A diferença só que nos mora na cidadezinha”, afirma o seringueiro Pedro Pontes da Silva.
São lugares onde a relação com o tempo é diferente e o ritmo é o dos rios. Quem governa deve levar em conta o clima equatorial.
“Nós temos seis meses de verão, seis meses de chuva, então tudo gira em torno dessa sazonalidade. Durante seis meses do ano no verão, a gente constrói estradas. Nos outros seis meses, a gente faz o que é possível em função das chuvas torrenciais”, explica o prefeito de Rio Branco, Raimundo Angelim.
Os primeiros a enfrentar essas poderosas regras da natureza foram os portugueses, a partir do século dezessete. Belém, Manaus, primeiro para ocupar. Depois, para explorar comercialmente a colônia, a urbanização, foi seguindo os rios Amazônia dentro.
“Belém era a que concentrava os fluxos, que conectava a Amazônia ao resto do mundo. Era a cidade que estava entre o mundo e a floresta”, afirma o arquiteto Flavio Nassar.
A floresta e suas especiarias, até hoje presentes no mercado do ver-o-peso, em Belém. Mas o primeiro grande ciclo econômico veio séculos depois, o do ouro branco das seringueiras: a borracha.
Como tantas cidades da Amazônia, Rio Branco nasceu à beira de um rio. No fim do século XIX, às margens do Acre, uma certa árvore frondosa, uma gameleira, chamou a atenção de exploradores que resolveram montar uma base para a extração de borracha na floresta.
A borracha abriu caminho até a Amazônia mais profunda. Povoou a região com milhares de migrantes. Principalmente, nordestinos. Essa é a origem de grande parte dos amazônidas de hoje, como o do seringueiro Edmilson de Lima Furtuoso.
“Eu fui criado com meu pai cortando seringa. E eu criei meus filhos tudo cortando seringa. E agora estou cortando seringa de novo. Só que a borracha está com preço baixo, não é ?”, lamente o seringueiro.
Até o começo do século XX a extração da borracha construiu fortunas. Fez crescer e embelezou cidades. Mas se mudou para a Ásia, com as plantações intensivas dos ingleses. A Amazônia ficou um pouco órfã.
A floresta começou a ser derrubada e novas cidades surgiram por outros interesses econômicos. Para as madeireiras, floresta era só matéria prima. Para a pecuária e a agricultura em larga escala, um obstáculo a ser removido da terra.
Nada mais fora de moda, neste século XXI. Aos olhos do mundo e, principalmente, dos maiores interessados. Os habitantes da Amazônia.
“Tem que ter política mais voltada pro desenvolvimento dos produtos da floresta, ou seja, o extrativismo, o manejo pesqueiro”, diz o prefeito de Lábrea, Gean Campos de Barros.
“Isso é que vai preservar a floresta e manter o caboclo no interior. Porque são eles que mantêm essa floresta, a cultura deles não é desmatar. É cortar seringa, pegar peixe”, conclui Gean.
Fonte: Jornal Nacional
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