O candidato ao Senado pelo PT do Acre, o ex-governador Jorge Viana, multiplicou seu patrimônio ao trabalhar para uma fábrica de helicópteros que fechou contrato bilionário com o governo Lula. Engenheiro florestal, um dos principais nomes do PT no Estado e irmão do senador Tião Viana (PT), Jorge foi prefeito de Rio Branco (93-96) e governador (99-06).
Em 1998, o patrimônio que declarou à Justiça Eleitoral era um apartamento financiado, dois carros e três linhas telefônicas. Até 2002, seus bens pouco evoluíram. Na semana passada, Viana revelou ao TRE do Acre ter um patrimônio de R$ 2,32 milhões --um salto de 1.466% em relação a 1998. Viana disse à Folha que deixou o governo acriano, em 2006, com patrimônio de R$ 700 mil, ou R$ 836 mil, em valor atualizado (crescimento de 177% desde então).
A explicação para o sucesso de Viana é sua passagem pela Helibras, a maior fábrica de helicópteros do país. Após deixar o governo acriano, Viana, cotado para ocupar ministérios, tomou posse na presidência do conselho de administração da empresa, em Itajubá (MG), onde trabalhou entre setembro de 2007 e março último, quando deixou a empresa para disputar o Senado. A empresa é controlada pelo grupo franco-alemão EADS, que faturou 48,3 bilhões em 2008.
Na gestão Viana, a Helibras, no âmbito do acordo militar assinado entre Brasil e França no final de 2008, acertou vender à União 50 helicópteros de transporte, por R$ 5,1 bilhões. A agenda de Lula e o histórico do projeto feito pela STN (Secretaria do Tesouro Nacional), entregue ao Senado, mostram que Viana apresentou pessoalmente a Lula, em 13 de fevereiro de 2008, a proposta da Helibras para instalação de linha de produção de helicópteros que desse conta da encomenda. O Ministério da Defesa confirmou que Viana participou de reuniões com autoridades do governo a propósito do acordo militar.
Em 2009, a Helibras também fechou contrato com o Exército, de R$ 375 milhões, para modernizar, até 2021, 34 helicópteros. Viana caiu nas graças do governo francês. Em novembro, foi condecorado pelo presidente Nicolas Sarkozy, em Paris. Fotos mostram que Lula participou do ato.A "Legião de Honra" é conferida a quem contribuiu com a França nas áreas econômica, social e cultural. Ele está na primeira categoria. A Embaixada da França no Brasil confirmou que a condecoração se deveu ao trabalho de Viana na Helibras, descrita como "grande parceira econômica da França".
Viana disse que a honraria "foi uma maneira de eles homenagearem um trabalho feito que construiu o que eu chamo de "a nova Helibras'". Ao sair do setor público após 12 anos, Viana disse ter ficado "chocado" com os valores pagos pela iniciativa privada, que, reconheceu, levaram a uma alteração "substancial" do seu patrimônio. Disse ter recebido, em média, R$ 80 mil por mês desde 2007, além do salário de R$ 20 mil do governo do Acre, como ex-governador.
Viana também integrou os conselhos administrativos de outras cinco empresas, cujos nomes ele não revela, sob alegação de ter assinado contratos com cláusulas de confidencialidade.Abriu uma empresa em Brasília, a Ambiental, no endereço do escritório de advocacia de um amigo, o ex-subprocurador geral da República José Roberto Santoro. Viana também tornou-se sócio de empreiteiros do Acre interessados em abrir usina de álcool em Rondônia, que ainda não saiu do papel.
OUTRO LADO
O ex-governador do Acre Jorge Viana (PT) disse que suas atividades na Helibras foram "pautadas pela ética" e que declarou todos os pagamentos à Receita. "Não fiz nenhum tipo de tráfico de influência." Disse também que vai se desligar das suas empresas, para evitar conflito de interesses. Viana disse ter mantido "distância regulamentar" do processo dos 50 helicópteros, mas reconheceu ter feito "contatos necessários" com o Ministério da Defesa e as Forças Armadas para tratar de temas relativos à Helibras.
Disse que, ao deixar o governo, em 2006, tinha dívidas bancárias, contraídas para comprar uma casa e dois carros. Afirmou ter sido escolhido pela Helibras por sua experiência gerencial. "O salário era muito bom, atrativo. Minha vida mudou porque não imaginava que conseguiria pagar algumas dívidas", afirmou.
O Ministério da Defesa informou que Viana atuou na questão dos helicópteros. Em oposição à informação do ministério, a Helibras afirmou que Viana não participou da venda. Disse que a escolha do ex-governador "envolveu uma avaliação de nomes com base em qualificações técnico-profissionais". O ex-procurador da República José Roberto Santoro disse que Viana não tratou, com o governo, de assuntos de interesse do escritório de advocacia.
Fonte: Folha.com, com infotmações do AC24horas
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