Já sabíamos o que iria acontecer nesse ano eleitoral, não poderia ser diferente.... já que toda vez é a mesma coisa: no primeiro semestre, há intensa movimentação nos bastidores dos partidos - paraíso das colunas de intrigas políticas e das revistas que vivem do negócio de denunciar candidatos; no segundo semestre, todos os políticos vão para as ruas, à cata de votos para seus candidatos.
Há um quê de patético nessa repetição enfadonha do ritual eleitoral, porque se sabe, de antemão, que o palavrório todo não irá mudar substancialmente nada. Alteração mesmo, só haverá é no cacife dos partidos e dos seus respectivos caciques - elemento importante na hora de negociar com Lula o lugar de cada um no vagão do oficialismo.
O problema não consiste na intenção dos candidatos ou na falta de atributos para exercer os cargos que pleiteiam. O obstáculo às alterações é de natureza estrutural: as carências acumuladas pelas populações pobres dos municípios (e elas estão presentes em todos eles) superam de muito os recursos que as prefeituras podem arrecadar para supri-las. Só uma reforma estrutural poderia remediar as limitações dos orçamentos municipais. Mas sobre isto, os candidatos não dirão uma palavra.
Este quadro dramático recomendaria, a rigor, o voto nulo. Contudo, não é o caso de fazê-lo, porque a campanha eleitoral pode ter uma serventia. Quem estiver disposto e souber aproveitá-la terá, por esses meses setembro e inicio de outubro - quando a população começar a se interessar pela eleição -, oportunidade de usar o horário eleitoral e, sobretudo, o debate entre os candidatos, para fazer a denúncia da farsa eleitoral e do sistema capitalista.
Embora a grande maioria da população deteste o horário eleitoral e as redes de televisão fixem o horário dos debates para as horas em que a grande massa está dormindo, sempre haverá meios de atingir um número relativamente grande de pessoas. No clima de marasmo que tomou conta da sociedade brasileira, esta perspectiva, embora pequena, já é um avanço.
Quanto ao resto, ou seja, à economia, à segurança, à ecologia, à autonomia do país, à educação, à saúde, cabe apenas assinalar que, enquanto os políticos estiverem dedicados a criar ilusões que, sabem, não poderão ser concretizadas, o mercado capitalista, livre de quaisquer peias, se encarregará de aprofundar a reversão da sociedade brasileira à condição neocolonial. Poderemos acabar tendo saudades de 2007!
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