Edward O. Wilson guarda a maior coleção de formigas do mundo.
A 14.001ª espécie acabou de ser descoberta no solo de uma floresta brasileira.
Fonte> Animal Planet Magazine e The New York Times
Para chegar ao escritório de Edward O. Wilson no campus de Harvard é preciso primeiro atravessar uma porta com uma placa avisando ao público para não passar. Então, entrar num velho e barulhento elevador e apertar dois botões simultaneamente. Assim, ele chega a um estranho domínio.
Trata-se de um espaço que guarda a maior coleção de formigas do mundo — algo em torno de 14.000 espécies. Curadores conferem as gavetas, observados pela alta figura de Wilson, que tenta conter sua excitação: a 14.001ª espécie acabou de ser descoberta no solo de uma floresta brasileira. Ele rebate qualquer ceticismo a respeito da singularidade da formiga –- a nova espécie é uma versão primitiva da primeira formiga, uma vespa que perdeu suas asas e designou todas suas descendentes a viver na terra, ao invés do ar. A nova formiga é tão estranha, tão distinta de todas as terrestres conhecidas, que será nomeada como se tivesse vindo de outro planeta.
As formigas são o primeiro e mais duradouro amor de Wilson. Mas ele se tornou um dos mais renomados biólogos através de duas outras paixões, sua necessidade de criar grandes sínteses de conhecimento e seu dom para escrever. Pelo poder de suas palavras, ele defende a biodiversidade mundial e realiza regularmente campanhas por medidas de conservação.
Embora tenha celebrado seu 79º aniversário no mês passado, Wilson está gerando um alvoroço na produção literária que já seria impressionante para alguém com metade de sua idade. Em novembro será publicada uma edição atualizada de “O Superorganismo”, seu trabalho enciclopédico sobre formigas co-escrito por Bert Hölldobler. Agora Wilson está escrevendo seu primeiro romance. Também prepara uma pesquisa sobre as forças da evolução social, que provavelmente aplicará às pessoas as lições das colônias de formigas. E, se tudo isso parece pouco, ele está engajado em outra luta.
Wilson não procurava briga quando publicou “Sociobiologia” em 1975, uma síntese de idéias sobre a evolução do comportamento social. Ele afirmou que muitos comportamentos humanos tinham base genética, uma idéia então combatida por muitos cientistas sociais e por marxistas aplicados em refazer a humanidade. Wilson ficou impressionado com o que sucedeu, descrito por ele como uma longa campanha de ataques e perseguições verbais com um sabor claramente marxista liderado por dois colegas da Harvard, Richard C. Lewontin e Stephen Jay Gould.
A nova luta é algo que ele havia procurado. Diz respeito a uma característica central da evolução, uma com influência considerável em comportamentos sociais humanos.
Trata-se do nível no qual a evolução opera. Muitos biólogos evolucionistas foram convencidos, através de trabalhos como “O Gene Egoísta” de Richard Dawkins, de que o gene é o único nível onde age a seleção natural. Wilson, mudando de idéia graças a novos dados sobre a genética das colônias de formigas, agora acredita que a seleção natural opera em muitos níveis, incluindo no de um grupo social.
É através de seleções de múltiplos níveis ou de grupo –- favorecendo a sobrevivência de um grupo de organismos sobre outro -– que a evolução trouxe aos seres, na visão de Wilson, os muitos genes essenciais que beneficiam o grupo à custa do indivíduo. Nos humanos, isso pode incluir os genes que inspiram a generosidade, as barreiras morais e até mesmo o comportamento religioso. Tais qualidades são difíceis de considerar, mas não impossíveis, na visão de que a seleção natural favorece apenas comportamentos que ajudam o indivíduo a sobreviver e deixar mais crianças.
"Acredito que, no fundo, qualquer um que trabalhe com insetos sociais está ciente de que eles foram criados pela seleção de níveis múltiplos”, diz Wilson.
No ano passado, ele e David Sloan Wilson, um antigo defensor da seleção em nível de grupo, lançaram uma base teórica para essa visão em um artigo publicado no "Quarterly Review of Biology". O texto provocou uma intensa reação de Dawkins na New Scientist; ele os acusou de se basearem em um ponto menor e exigiu uma retratação.
Propor uma idéia considerada herética a muitos biólogos evolucionistas é um dos menores conflitos que Wilson detonou. Em seu livro de 1998 chamado “Consilience”, ele propôs que muitas atividades humanas, da economia à moralidade, precisavam ser temporariamente retiradas das mãos dos especialistas dominantes e repassadas aos biólogos para definição de uma fundação evolucionista apropriada.
“É surpreendente que o estudo da ética tenha evoluído tão pouco desde o século XIX”, escreve ele, desconsiderando um século de trabalho de filósofos morais. Sua percepção foi sustentada pela recente aparição de uma nova escola de psicólogos que estão construindo uma explicação evolucionista da moralidade.
A pesquisa de Wilson, sobre a determinação do comportamento social, parece ter chances de entrar firmemente nesta agitada arena. Moralidade e religião, ele suspeita, são traços baseados em seleção por grupos. “Grupos com homens de qualidade -– bravos, fortes, inovadores, espertos e altruístas -– tenderiam a triunfar, como disse Darwin, sobre aqueles grupos que não têm essas qualidades tão bem desenvolvidas”, diz Wilson.
“Obviamente, essa é uma idéia muito impopular, muito politicamente incorreta se interpretada com exagero, mas mesmo assim Darwin poderia estar certo. Indubitavelmente teremos uma nova e enorme controvérsia”, diz ele sem arrependimento evidente, “e esse será o tema do meu novo livro, assim que acabar meu romance.”
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