Recebi um email contendo dois textos adoráveis do Antônio Alves, conhecido por Toinho Alves, célebre comentarista de coisas do Acre e personagem dos programas eleitorais da Frente Popular do Acre, que escreve suas crônicas no Blog Tempo Algum. Textos estes que faço questão de reprozí-los....
A caminho
A pergunta é: como manter a esperança, sem alimentar ilusões?
Pensei e pensei, pois há muitos becos sem saída. Revejo um texto antigo, em que me perguntava se o mundo já tinha passado do ponto de não-retorno, e noto como foi se formando essa certeza de estar vivendo numa espécie de ante-presente, um tempo ineficaz, que não se conta nem se pode contar.
Agora vem Marina com esse chamado, como se ainda desse tempo, como se ainda houvesse jeito –e tanta gente acredita e transfere seus sonhos para outra embarcação, que não posso deixar de me comover. Então vem minha filha Veriana, que daqui a uns dias chega aos vinteanos, e me chama para suas conferências e revoluções comunicativas e culturais, o que me lembra, a um só tempo, que minha descendência neste mundo resulta em inevitável compromisso e que ainda posso ensinar algum ofício, afinal necessário ou ao menos prazeroso, aprendido nas andanças e batalhas d’antanho.
Está bem, vamos.
Reservo-me, porém, o direito de alguma reserva: uma ironia que prometo jamais resvalar para o sarcasmo, boa dose de ceticismo sem a impureza do cinismo, um certo enfado para reuniões já reunidas de conversas já conversadas e distrações freqüentes para olhar a paisagem –afinal, não vim à guerra apenas para guerrear. E não me chamem em dias santos.
Levo comigo uma caneta de ponta muito fina, para desenhar, um velho livro com alguma poesia e a certeza da proteção divina. Faz tempo já me passei para o lado do mistério, mas ainda conheço alguns segredos.
Sou bom na água, melhor na terra. Serei de alguma ajuda.
Só sendo
.
O homem só escora-se em si:
num pé e noutro acha seu sustento
- que o chão nunca lhe falta e é tudo que mantém.
.
Cego em que o ouvido lhe sussurra
e surdo no que o olho pinta e borra,
engole insosso o pão que a mão sem pele amassa
e não cheira, nem fede.
Inventa por fim outros sentidos e às margens chega
do mar do nada em que não morre ou mata
a sede que não tem.
.
O homem só é ninguém.
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