Caros Leitores, desde a sua criação o Blog Xapuri News, o intuito sempre foi de ser mais um espaço democrático de noticias e variedades, diretamente da Princesinha do Acre - Terras de Chico Mendes - para o mundo, e passará momentaneamente a ser o instrumento de divulgação das Ações da Administração, Xapuri Nossa Terra, Nosso Orgulho, oque jamais implicará em mudança no estilo crítico das postagens.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Voltando ao Assunto Crise

Personagens Inesquecíveis do “Vinte”

Como antes já havia comentado, não somente a Festa do Vinte de janeiro ficou famosa, mas também seus personagens, sejam eles milhares no anonimato ou aqueles que diretamente contribuíam para que a Festa acontecesse, é comum em conversas bem amigáveis e de muito respeito com os “mais velhos” sempre, entre um gole de café e, às vezes, uma dose de pinga, vão contando e explicando coisas de épocas distantes. Em meio à conversa, um pára e pede ajuda ao outro para relembrar um fato. Na maioria é sexagenária. Falam sobre danças, músicas e costumes. Citam nomes de grandes mú¬sicos regionais que animavam os bailes de 20 de janeiro, entre os quais Zeca Torres, Felix Pereira, Pituba, Olívia, Oscar Capivara, Beijuba, Aurélio e outros. Torres, Pi-tuba, Oscar, Aurélio e Beijuba já não tocam mais trombone, saxofone e acordeon. O Pituba morreu velho e esquecido; Torres foi traído pelo coração; o Oscar (me¬lhor saxofone do Norte do Brasil) segundo os que o conheciam foi morto em 1980, pelo trânsito de Rio Branco. O Aurélio, talvez o musico mais importante da época, dormiu e nunca mais acordou. E, por fim, o Beijuba morreu acometido de doença grave. Todos eram artistas e xapurienses que aqui começaram seus primeiros passos entre uma rodinha de amigos e outra, entre os grupos de jovens da paróquia de Xapuri, entre as diversas ações do Grêmio de Estudos Madre Petronilia Trinca do Instituto Educacional Divina Providência, desenvolveram suas habilidades musicais que entre muitas coisas alegraram inúmeras festas de São Sebastião. Segundo relatos no período de 50 e 60, esses músicos tocavam marchas, valsas, xotes, rancheiras, baiões, sambas e chorinhos, nos tantos salões existentes em Xapuri,entre eles o “Pega”, o “Pau no meio” o Ponto Chique... etc.

Nessas conversas os assuntos são muitos, das belas mulheres que chegavam à festa para 'faturar" e dos “marreteiros” (hoje camelôs) faladores que mostra¬vam um objeto qualquer e diziam: "Pague um e leve dois."

PAGAMENTO DE PROMESSAS

Comumente os músicos Xapurienses acompanhavam desde o dia 10 de janeiro até a festa dia 20, alegrando as “noitadas” com suas belas canções e ladainhas cantadas aos Santo Padroeiro, onde destaca-se o famoso “Salve, salve... São Sebastião” “O Povo de Deus” “Vim te pedir” e “Maria mãe dos caminhantes” e por incrível que pareça segundo os depoimentos o que mais emocionava sempre era o Hino Acreano.

Geralmente essa ação dos músicos era encarada como obrigação em agradecer as dádivas e o Dom da música, atribuídos ao Santo, era como se fosse um pagamento de promessa. E por falar em promessas, quando falamos nessa questão os idosos explicam, com minúcias, as mais diversas maneiras de se pagar promessas ao santo padroeiro.

- "A gente, quando alcançava uma graça, escolhia a maneira de como acompanhar a procissão, não importava o sacrifício, se um filho, a mulher ou qualquer outro parente havia sido salvo de doenças ou outro perigo. Alguns traziam "pelas" de borracha, facas de seringa* *, espingardas, facões, machados ou qualquer objeto de trabalho. Outros vestiam roupões (mortalhas) para acompanhar o santo. No final, tudo era depositado no altar. Tinham os que traziam animais, como porcos, galinhas, carneiros e até novilhas" — diz o velho Simeão Lima, do seringal Iracema.

Interessante que nas conversas as pessoas analisam e comparam as épocas, à medida em que a conversa vai se prolongando. É preciso estar atento, saber ouvir. Não se trata de desenrolar rosários de histórias saudosistas, mas de mostrar com perfeição o que acontecia nos “Vinte” passados. Há momentos em que esses idosos alegres endurecem as feições parecendo fazer ligação do passado ao presente. Parece que se dão conta de uma outra realidade, de tempos novos. São pessoas que têm vontade de falar coisas boas, de enaltecer a grande festa de Xapuri, mas é exatamente ela que serve de espelho onde os velhos trabalhadores se refletem.

O 20 de janeiro é um termômetro que serve para medir o grau de positividade ou negatividade na vida do município. Positivamente esta aferição era feita ao longo dos anos pelos saudosos xapurienses Raimundo Paes, Guilherme Lopes, Geremias, Jacob Rosendo, ex-políticos e comerciantes desta cidade. Segundo anotações da época em meados 1980, eles já sabiam que o apogeu já havia passado.

Nas crônicas do saudoso Josué Fernandes nos editoriais do Jornal Rio Branco datado do ano de 1981, quando por essas bandas veio realizar uma série de entrevistas sobre a festa e três delas merecem atenção porque são personagens históricos que povoam o imaginário Xapuriense veja em síntese o que foi escrito na coluna naquela época:

-Francisco Fidélis, ex-seringueiro com mais de 18 anos dedicados à seringa e uns tantos outros à agricultura, explica: "Quem dava movimento à festa de São Sebas¬tião eram os seringueiros, que trabalhavam o ano inteiro porque tinham devoção a gastar. Havia a certeza de que no ano seguinte tudo estaria recuperado e podia-se fazer outra despesa." Fidélis afirma que hoje não é mais possível fazer tal coisa, a situação está dura e "quem se arrisca vai sofrer". E continua:

- "O seringueiro já não existe mais. Foi expulso da colocação. Teve que ceder ao sulista que não se interessa por borracha. Milhares de seringueiras foram queimadas." E pergunta: "Você viu agora os montes de borracha que era acostumado a ver?" (Balancei a cabeça negativamente). O velho xapuriense prossegue: "Essa borracha que sumiu é que sustentava tudo isso aqui com a castanha, o couro de caça, a agricultura.Mudando de assunto, Fidélis diz nada tem contra rodovias, "mas elas trazem gente esquisita pró nosso meio". Sobre rodovia, Alesbão (um bom préto velho) diz: "Antes da instalação das estradas, festa de São Sebastião recebia mais gente. As pessoas vinham como podiam de pé, de barco, em lombos de animais e traziam macaco, papagaio, arara, periquito e até carne caça para a alimentação, durante os dia de festa."


- Quem não se lembra do Velho Camurim (foto ao lado), figura histórica cheia de histórias engraçadas e espalhafatosas, de piadas, enfim o grande Camurim sempre foi um dos personagens que a juventude sempre usou para fazer piadas. Antônio Bernardo, velho cearense que por muitos nos abasteceu Xapuri com carvão e secou tantas garrafas de pinga segundo os que o conheceram em um dos editoriais citados deu a sua opinião: “as enchentes, as chuvas nunca foram empecilho para atrapalhar a vinda do seringueiro; a Cidade, nesta época de festa”

Antes do terceiro personagem extraído dos editorias de O Rio Branco do ano de 1981 e que posteriormente se transformou numa publicação sobre a festa vejam que naquela época já havia uma certa falta de esperança em relação à economia Xapuriense senão vejamos parte daquela publicação:

POUCA ESPERANÇA
“Esses homens simples, mas capazes de compreender o que ocorre ao seu redor, afirmam não mais acreditar no soerguimento dos seringais. Esclarecem que as enor¬mes fazendas espalhadas Acre afora não permitem a volta da borracha, por mais que o governo se esforce.
"São de homens poderosos, que têm dinheiro", comple¬tam. Para os mais velhos só resta uma única alternativa: "ter fé e acreditar num mundo no¬vo, na libertação". "Se houver vontade, as coisas ainda podem voltar a ser como eram antes." E assim, a pobreza rápida a que essa gente foi submetida leva, às vezes, um homem do campo a fazer certos tipos de análises e que outras pessoas de locais mais "adiantados" sentem dificuldade de entender. É o resultado da estratificação social.
Vejam a terceira figura pelas letras de Josué Fernandes
“Dia 18 de janeiro, a convite de um amigo (o Pele), fui a uma boate e lá me apre¬sentaram uma figura de aspecto muito cordial: um mulato mediano, roupa pouco limpa e ginga de sambista, com quem travei o seguinte diálogo:
- Como é seu nome?
- Pirulito.
- O nome verdadeiro?
- Não é importante.
- Você é de onde?
- Do mundo.
- Tem família?
- Está toda aqui (apontou para as pessoas que dançavam).

O mulato que sentira o meu embaraço chegou-se e disse: "Eu sou de paz e gosto de dançar, brincar com as pessoas. Já tive tudo na vida, hoje..." Em seguida executou assobios imitando gorjeios de pássaros e já no final ocupou o centro do salão assobiando estridente, como que um árbitro que encerra uma aguerrida partida de futebol. Nos dias que se seguiram não foi mais possível ver o Pirulito. "O cidadão livre".

Xapuri é recheado desses personagens que inebriam o nosso imaginário e que muitas vezes capturados pela ótica mal intencionada de muitas pessoas que imaginam terem o domínio do conhecimento. Aprendi que para compreender a história de vida desses personagens é necessário antes de mais nada, se despir de conceitos pré-estabelecidos e aprender a conhecer o diferente o incompreensível.

No próximo artigo trataremos de uma entrevista do saudoso Guilherme Zaire no final da década de 70 sobre a festa, onde após a leitura me senti como se tivesse tido um aula sobre sociologia xapuriense.

Uma Informação correta vale uma vida

Começo essa postagem com o titulo acima parafraseando Scott Turow, que em síntese dizia que uma informação mal dada é como o assassino que deixa seqüelas demasiadamente profundas para serem apagadas.

Entre meus vícios está a de colecionar erros gráficos de placas de informações, outdoors, faixadas comerciais e até mesmo de cartazes e folders que chegam até minhas mãos por amigos ou por conveniências permito-me acesso até os mesmos. Tenho muito material desse tipo em meu pc, já que depois das frases de banheiro esse é meu passa tempo das horas ociosas.

Confesso que não posso ver uma frase de filosofia de caminhoneiro em um para brisa ou para barro que já estou clicando, não posso ver uma placa mal intencionada que lá vou eu clica-la. Mas o pior de tudo é que adoro divulgar estas coisas “interessantes”

Já fui até ameaçado de processo quando muito antes da abertura deste blog, fiz uma ligação direta de um cartaz divulgacional do 1º Baile da Cachinguba de Xapuri (Festa GLBT), com os folders comemorativos da Festa do Padroeiro. O problema é que estavam idênticos na apresentação. No dito cartaz problemático apresentava um rapaz (gay) só de sunga (vermelha) fotografado encostado em uma arvore com um braço sobre a cabeça e o outro próximo a cintura porém levemente flexionado para traz do corpo. Não foi maldade minha.. maldade foi dos idealizadores da peça, eu apenas interpretei e tive coragem de comentar.

Bem, mas a minha ultima aquisição trata-se de uma fotografia de uma placa pintada no muro indicando o local de um salão de cabeleireiro, acontece que a seta está indicando para o lado oposto da entrada, se o interessado em ir ao salão respeitar a placa dá com as “fuças” no muro

Governo prorroga até sexta-feira inscrições para seleção de 1.643 professores

As inscrições para participação do processo seletivo de 1.643 professores para a rede estadual de ensino que deveriam se encerrar às 17h30mim, desta quarta-feira, dia 14, foram prorrogadas pela Secretaria da Gestão Administrativa (SGA), para até sexta-feira, dia 16. O cadastramento está sendo realizado através dos seguintes endereços eletrônicos: www.sec.ac.gov.br, www.gestao.ac.gov.br, www.ac.gov.br.

As vagas estão assim distribuídas: 584 para Educação Infantil e os primeiros anos do Ensino Fundamental (1º ao 5º ano); 524 para Educação de Jovem e Adulto (1º e 2º segmentos do Ensino Fundamental e Médio); 11º para o Ensino Especial e 425 vagas para as séries finais do Ensino Médio e Fundamental.

Tudo devidamente Explicado!!!!

Em recente noticia pelos veículos de comunicação do Estado davam conta de que Celso Ribeiro ex-prefeito do Quinari (Senador Guiomar) poderia ser preso por apropriação de recursos do INSS, porém na tarde desta quarta feira, segundo o site AC24horas, documentos apresentados pelo ex-prefeito, comprovam que ele não se apropriou indevidamente dos recursos do INSS, conforme foi publicado. Pelo contrário, deixou crédito de mais de R$ 1 milhão para a atual gestão de James Gomes.

De acordos informações repassadas pela assessoria do ex-prefeito, sem precisar de senha, qualquer cidadão pode verificar os repasses efetuados pelo município através do sistema de informações do Banco do Brasil pelo ícone “repasses” onde estão visíveis os descontos de R$ 60.069,06 que foram descontados mensalmente desde 2002.

O montante debitado todo dia 10 da parcela de FPM nos últimos sete anos somam mais de R$ 4,3 milhões. A assessoria do ex-prefeito informa ainda, que a dívida do município junto ao INSS pagas por Celso Ribeiro, incluem os débitos herdados dos ex-prefeitos Marizia Batista e Manoel Gomes (este último pai do atual prefeito James Gomes) e somam pouco mais de R$ 3 milhões.

“O que o atual prefeito tem que fazer é parar de perseguir os outros e trabalhar. Levantar a documentação e dar entrada ao processo de encontro de contas no INSS. Assim ele terá um saldo contabilizado em mais de R$ 1 milhão”, assegurou Ribeiro.

Segundo o ex-prefeito seus adversários no município emplacam uma campanha de linchamento moral contra a sua pessoa. Ele informou que sua assessoria jurídica vai juntar os documentos publicados na imprensa e entrar com processo contra James Gomes que, segundo a matéria foi quem repassou tais informações.

Veja fac-símile do último repasse efetuado em 10.12.2008.

SISBB - Sistema de Informações Banco do Brasil
13/01/2009 DAF - Distribuição de Arrecadação Federal 13:32:29
SENADOR GUIOMARD - AC
FPM - FUNDO DE PARTICIPACAO DOS MUNICIPIOS
DATA PARCELA VALOR DISTRIBUIDO
10.12.2008 PARCELA DE IPI 60.657,32C
PARCELA DE IR 450.667,01C
INSS-PARC-PROC 9.114,53D
RETENCAO PASEP 4.682,18D
INSS - EMPRESA 60.059,06D
INSS-PARC-ADM 37.574,51D
PARC./RET. INSS 13.562,04D
DEDUCAO SAUDE 76.698,63D
DEDUCAO FUNDEB 43.104,08D
TOTAL: 266.529,30C

A noticia que circulava era do sequinte teor:
Ex-prefeito Celso Ribeiro pode ser preso por apropriação indevida do INSS

O ex-prefeito de senador Guiomard, Celso Ribeiro pode ser preso por apropriação indevida. Ele deixou de recolher aos cofres da União a contribuição do INSS descontada dos servidores da prefeitura e a parte da instituição. Segundo informações do novo prefeito, James Gomes (PSDB), desde abril de 2008 que os recolhimentos não são efetuados. O fato já foi comunicado ao Ministério Público Federal.

O QUE DIZ A LEI - Expressa o artigo 168-A do Código Penal: “Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional:" e apena referido delito com reclusão de dois a cinco anos, e multa. Diz o parágrafo 1º do citado artigo que “nas mesmas penas incorre quem deixar de: I - recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à previdência social que tenha sido descontada de pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do público.”

Então tudo explicadinho neh....

Fusão das teles, refém da omissão do governo, ficou nas mãos dos empresários

Escrito por Gabriel Brito

Com a aprovação da venda da Brasil Telecom à Oi, por meio de anuência prévia concedida pela Anatel, foi dado sinal verde para um dos mais controvertidos negócios do país nos anos Lula. Para Marcos Dantas, ex-membro do Ministério das Comunicações em 2003, a fusão pode ser considerada positiva para o país, pois, acima de tudo, passa a levar as tecnologias dos principais centros para todos os 2000 municípios a serem cobertos pela nova tele.

No entanto, em entrevista ao Correio da Cidadania, Dantas também condena a omissão do governo na condução do processo, sabidamente inevitável, mas que, dessa forma, teria ficado manchado com a interferência e influência dos empresários interessados. "O governo não tem doutrina em comunicações, em política industrial, energética, enfim, em nada que é importante o PT possui uma doutrina", critica.

Para o professor de Comunicação Social da PUC-RJ, além da extensão dos serviços de banda larga para localidades outrora esquecidas, também é importante a garantia de que a nova tele não possa ser repassada a estrangeiros, omissão que em sua opinião configura a principal falha na transação.

Correio da Cidadania: O conselho diretor da Anatel aprovou a compra da Brasil Telecom pela Oi. Cercado de controvérsias, o que se pode dizer do negócio e o que representa para as nossas telecomunicações?

Marcos Dantas: Se analisarmos o ato, de número 1828, poderá ser visto que na verdade trata-se de uma anuência prévia, ou seja, o negócio só será aprovado se o ato for cumprido. E este impõe um conjunto de condições que são verdadeiras novidades na política brasileira de comunicação. É quase um rompimento com o pacto neoliberal nesta área. Por exemplo: se estabelece à nova empresa a obrigação de incorporar uma extensa área do país à infra-estrutura de banda larga, que por sua vez só alcança a área integrada ao mercado, onde há renda. Inclusive algumas capitais, como Macapá, Boa Vista, Manaus, não estão incorporadas à infra-estrutura de fibra ótica. E o ato obriga a nova empresa a estender a infra-estrutura nacional de fibra ótica a essas localidades; obriga a nova empresa a estender a banda larga – que além de fibra ótica pode ser feita por ADSL – a todos os municípios onde for operar. Hoje, só existe ADSL nos municípios lucrativos.

Portanto, é uma política de universalização da banda larga que vem contida na negociação, um ponto muito importante. Além do mais, estabelece também o compromisso de a empresa atender às necessidades do exército nas fronteiras brasileiras. Isso é inédito, até porque o governo anterior entregou o satélite que serve ao exército brasileiro a uma potência estrangeira. Dessa forma, começa a haver uma política de se criar uma estrutura alternativa, controlada por brasileiros, a fim de atender ao nosso exército.No referido ato, também se estabelece: a obrigação da nova empresa de investir no desenvolvimento técnico-científico, inclusive em parcerias com centros de pesquisa, como a Rede Nacional de Pesquisa e o Projeto Geoestacionário Brasileiro, de satélites; uma política de compras, ao adquirir produtos de fabricação, ou ao menos montagem, dentro do país.

Enfim, uma série de questões que os governos neoliberais – Collor, FHC e Lula – tinham jogado fora, agora se veem recuperadas pela Anatel. Sem falar que sempre fui defensor da ideia de que o Brasil deveria ter uma grande operadora nacional de telecomunicações. Exatamente para fazer o que está no ato; atualizar a comunicação, promover desenvolvimento industrial, atender às necessidades estratégicas nacionais etc. Vejo tais condições, dado o vazio anteriormente existente no setor, como um avanço extraordinário. Só há sentido em se criar uma empresa deste porte se esta puder atender a um conjunto de demandas voltadas a um projeto nacional. E nesse sentido o ato fixou diversos pontos que criam as condições para tal projeto.

CC: O conselheiro da Anatel que mais exigiu condicionantes ao negócio, Plínio Aguiar, afirmou que a transação pode se revelar maléfica para o mercado interno, pois foi derrubada a exigência de livre acesso à rede da megaempresa por parte das concorrentes. Está se permitindo, dessa maneira, a formação de um oligopólio no setor?

MD: Não creio. O conselheiro referido é um defensor do projeto neoliberal. Ele queria separar a parte de banda larga dos serviços de comunicação e multimídia, o que é inviável e tornaria tudo mais caro. O ato estabelece, basta lê-lo, um conjunto de cláusulas, obrigando inclusive a nova empresa a criar uma gerência comercial para agilizar as negociações com seus concorrentes em locais onde possui o monopólio da rede. Isso é uma interferência direta na gestão da empresa. Além do mais, esse negócio de concorrência é relativo. Nos lugares em que há mercado, há concorrência; onde não existe mercado, tampouco existe concorrência. Onde moro, não canso de dizer, tenho dois telefones: um da Oi e outro da Net, fora o meu celular, da TIM. Aqui, na zona sul do Rio de Janeiro, todo mundo quer me oferecer o serviço. Mas vamos ver lá no interior do Pará se estão oferecendo.

Portanto, é muito mais importante o fato de se obrigar a empresa a atender com banda larga aos seus 2000 municípios, lembrando que hoje atinge 300, do que essa bobagem de achar que a separação vai criar concorrência. É raciocínio de neoliberal e prejudicaria os custos para todo mundo. Ela pode usar a infra-estrutura dela para oferecer o serviço em todo lugar e mais barato, inclusive para poder enfrentar a concorrência. É preciso pensar o seguinte: a Oi/BrT será a única, e o Correio da Cidadania deveria se ater a isso, a operar no Brasil pobre. E ela só pode operar no Brasil pobre se obtiver lucro no Brasil rico, caso contrário, não consegue se sustentar. Se ela não tiver lucro nos 300 municípios onde há concorrência, não banca a banda larga para as 2000 cidades cobertas pela nova tele. Quem propõe o que o Plínio Aguiar propõe só está pensando nas regiões onde há mercado.

CC: Depois de liberado o negócio, descobriu-se que não se firmaram mecanismos que excluam a hipótese de venda da tele para o controle de um grupo estrangeiro. E caso realmente apareça uma oferta de fora, o governo teria somente um mês e meio para definir se cobre a proposta. O que dizer sobre isso se, além do uso de mais de R$ 6 bilhões públicos, entre os argumentos dos defensores da fusão estavam o fortalecimento de uma empresa nacional no setor, em condições inclusive de se tornar um ‘global player’?

MD: É correta a observação e trata-se de um fato realmente preocupante. Deve-se defender, por exemplo, a ação dourada. Sou a favor dela, mas lembro que na Embraer ela não serviu de nada; foi desnacionalizada do mesmo jeito e o ministro da aeronáutica que quis exercer seu poder de veto foi demitido. E no caso da Varig, que não tem ação dourada, ela só não foi desnacionalizada por conta de uma ação absolutamente destemida e intempestiva do Carlos Lessa, presidente do BNDES à época. Mas isso resultou na demissão dele.

Portanto, não é o fato de possuir os mecanismos explícitos ou não. O fato é que se não tiver as pessoas certas nas posições certas e o compromisso dos homens públicos em não desnacionalizá-la, se tiver ação dourada, mas na hora de decidir o ministro que quiser exercer o poder for demitido como no caso citado, não adianta nada. No entanto, evidentemente seria bom que já existisse tal mecanismo. Mas, obviamente, essa proteção ainda pode ser construída, seja através de participação acionária, de capital do BNDES na empresa... No fundo, não estou tão preocupado, pois não creio que a nova tele desperte o interesse do capital estrangeiro. Se despertasse, teriam comprado a Telemar e a Brasil Telecom. Não foi por acaso que a Brasil Telecom acabou na mão dos fundos de pensão do Banco do Brasil associados com o Daniel Dantas e a Telemar nas mãos do fundo de pensão do BB associados com o Jereissati. Eram empresas que não interessavam ao capital estrangeiro.

CC: Mas de toda forma as telecomunicações fazem parte do conjunto estratégico que configura a soberania de um país.

MD: Sim, mas isso não esteve em jogo em momento algum, tanto que entregaram o satélite aos americanos. O satélite, sim, interessava aos americanos. E este foi entregue.

CC: Em outro ponto bastante contestado, sabia-se que caso o negócio não fosse concretizado dentro de prazo acordado entre as empresas – meados de abril de 2009 – uma milionária multa seria aplicada à parte rompedora do contrato. Podemos pensar que Brasília deixou o lobby empresarial passar por cima do interesse nacional?

MD: Essa, de fato, é a grande crítica a ser feita. O governo, desde o início, é quem deveria ter assumido a liderança do processo. E acabou agindo a reboque dos empresários. Em meu livro ‘A lógica do capital em formação’, num longo prefácio digo com clareza, antes de o Lula assumir, que ao longo do próximo governo ocorreria tal fusão. Isso em 2001. Portanto, como estive no governo em 2003, minha ideia inicial era de que o governo assumisse a liderança da situação. A conseqüência é que fui mandado embora.O governo ficou na dele. Resultado: acabou sendo levado pelo processo.

CC: Como analisa as políticas governamentais na área das telecomunicações?

MD: O governo não tem política nesta área. Para começar, o governo não tem doutrina no setor, não há quem entenda do assunto no PT. O governo não tem doutrina, aliás, em comunicações, em política industrial, energética, enfim, em nada que é importante o PT possui doutrina. Sendo assim, o governo terminou na mão das forças do mercado, fazendo o que queriam os empresários. O Brasil tem um parque energético cada vez mais sujo - e era extraordinariamente limpo - em função de uma consultoria inglesa contratada para a revisão da política energética nacional. E hoje baseamos nosso fornecimento de energia elétrica em termelétricas a carvão e diesel, um completo absurdo. E na política de comunicações o governo tampouco mexeu em nada. Só o fez porque havia uma situação, previsivelmente, insustentável. Depois os empresários chegaram e colocaram a corda no pescoço. Assim, mudaram a regra do jogo.

CC: Ou seja, um processo que de fato deveria ser realizado, mas que foi manchado devido aos conflitos éticos que se sobrepuseram.

MD: Sim, imagino que assim a imagem do negócio seria distinta. Ficou a ideia de que o governo fez uma negociata. Nem descarto tal hipótese, mas o fato é que era necessário, o governo deveria ter assumido as rédeas do processo, mas se deixou levar a reboque e agora sofre com um altíssimo ônus político.

CC: E essa deficiência nas políticas de telecomunicações nada mais é, portanto, do que um entre tantos reflexos da fraqueza governamental nos mais diversos setores estratégicos?

MD: Sim, creio ser problema de formulação estratégica, política, de doutrina, em todos os assuntos relacionados ao desenvolvimento do país. Ou seja, em todas as áreas que interessam ao capital.

O governo é muito bom em política assistencialista. Nisso é muito bom. Mas não mudou absolutamente nada em setor algum. A política educacional é a mesma do governo anterior, a industrial também, a energética idem, sem falar, claro, das políticas financeira e monetária. O governo Lula é continuação do governo FHC, não há nada que o diferencie muito.

Eles estão vivos

Escrito por Gabriel Perissé
Eles estão vivos. Falam em diversos idiomas. Escondem-se. Dão sustos. Fogem correndo. Voltam humildes. Ficam esgotados e se recuperam. Morrem, porque estão vivos. Ressuscitam, porque estão vivos.

Estão vivos, andam ao meu redor, me acordam no meio da noite, me levam para passear. Propõem charadas. Cantam, contam, esquentam minha frialdade, matam minha solidão, torturam meu tédio.

Vivos, falam o tempo todo da vida, e da morte. Falam de pontos e linhas. Falam de curvas e retas. Falam de nuvens e pedras. Não temem nenhum assunto. Tudo o que é humano lhes é familiar.

Vivos estão debaixo da cama, enquanto roncamos e sonhamos, sem saber o que planejam. Planejam tomar nosso cérebro. Ocupar nosso coração. Planejam reconduzir nossos pesadelos. Planejam atuar sobre os nossos planos.

Vivos estão sobrevoando as casas, enquanto rastejamos. Vivos estão no porão, no armário trancado, na sala sem ar.

Vivos, compulsivos, cumulativos. Invasivos como doenças. O que são? O que são? Não se deixam levar, não facilitam a nossa vida.

Nem sempre estiveram tão vivos. Antes, eram pontos obscuros em mentes diferentes, insurgentes. Eram intuições vagas, imagens confusas, palavras soltas, diálogos cortados.

Mas quando se tornaram coisas vivas, conseguiram gerar outras vidas. São multiplicativos, insaciáveis, milagrosos.

Quando estão em nossas mãos, essas coisas vivas ganham novos formatos. Emitem sons de todos os tipos, belos e horrorosos, insinuantes e detestáveis, harmoniosos e desafinados.

Porque são vivos, eles me perturbam, eles nos perturbam. Você e eu não podemos evitá-los, não podemos mais viver sem eles. A vida que transborda neles é a vida que nos falta viver. Bebemos neles a vida que queremos ter.

Se vivos não fossem, não teriam essa força toda. Não estariam tão próximos de nós, mais próximos do que os animais de estimação, mais íntimos do que muitos daqueles que se dizem amigos nossos.

Vivos, podem ser queimados. Vivos, podem ser vendidos, doados, emprestados, esquecidos, reencontrados.

Vivos estão. Mais vivos do que pensamos. Mais vivos do que gostaríamos, talvez. Gritando, uivando, gemendo, os livros vivos nos fazem pensar além da conta, nos fazem lembrar realidades que gostaríamos de eliminar, os livros vivos nos fazem imaginar fora de hora.

Vivos estão os livros, objetos que deixaram de ser objetos.
Vivos livros, vivos quando os lemos. Ou até mais vivos, quando os deixamos de lado.
Livros vivos que vivem em mim, e em nós.

Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor.
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