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terça-feira, 17 de junho de 2008

Uma Baita de uma Mentira!!!!!!

Campanha de "esclarecimento" da lei que mudou o fuso horário do Acre afirma que a mudança é um ideal da revolução acreana (?!?!). É uma mentira histórica propagada com uso de recursos públicos. Onde anda o MP para coibir este abuso?

Todos já notaram que a campanha de publicidade relativa à implantação do novo fuso horário está em pleno andamento. Ela começou timidamente e de forma incompetente no rádio faz algumas semanas. Inicialmente haviam informado o dia errado em que o novo horário entraria em vigor. Depois passaram uma semana mandando todos 'desconsiderar' a mensagem anterior. Parecia até piada.

E a última versão da campanha que está sendo transmitida nas rádios locais contém uma informação no mínimo suspeita: ela recomenda a todos continuar a acordar no horário habitual!?!?

A agência responsável pela peça publicitária está confundindo os ouvintes, que imaginam que o novo horário não irá mudar em nada as suas vidas. Muitos pensam erroneamente que com o novo horário irão economizar uma hora na parte da manhã e que por isso poderão dormir um pouco mais etc. Ledo engano: todos terão que acordar uma hora mais cedo sob pena de chegar atrasado nos compromissos matinais.

A maior parte da população ainda não se deu conta que o projeto de Tião Viana, sem pedir permissão, usurpou 'para sempre' uma hora da vida de cada um dos acreanos.

E por que a peça publicitária está pregando este tipo de 'peça' nos ouvintes? O que mais posso pensar que não uma tentativa de livrar a cara do autor do projeto que fará os acreanos 'acordar no escuro'?

E os responsáveis pela campanha publicitária não se limitam a isso. Quem já viu o outdoor da campanha observa que eles tascam uma imagem do sol na peça publicitária. Deveriam colocar a imagem da lua pois os acreanos agora terão de madrugar! Agora vão ter que acordar olhando as estrelas no céu!

Mas o mais grave da mensagem contida no outdoor é o chavão: "Ideal da Revolução Acreana".

Que sacrilégio! Que mentira sem tamanho tentar associar a mudança do fuso horário com os ideais da revolução acreana!

E está subscrita pelo nosso Governador Binho Marques, o ordenador das despesas do Estado. Tenho certeza que ele não está de acordo com o que está escrito nos outdoors. Tampouco os acreanos autênticos foram tocados em sua acreanidade ao lerem tamanha mentira.

Em primeiro lugar, na época em que os revolucionários lutavam para incorporar o Acre ao Brasil, entre 1899 e 1903, não existia sequer o sistema de fusos horários. Ele só surgiu 10 anos depois! Naquela época, quem dirigia a vida das pessoas e determinava a hora de acordar, almoçar e dormir era a posição do sol.

Depois, todos sabem que com a mudança promovida pelo Senador Tião, o sol passará a surgir no horizonte dos acreanos depois das seis da manhã. E se o dia estiver muito nublado, correremos o risco de ter plena claridade matinal pouco antes das sete da manhã!

E para completar a aberração, nosso final de tarde tropical vai ser uma imitação das tardes nas regiões temperadas do planeta: o sol vai se pôr por volta das sete da noite! A mudança do fuso horário acreano é, portanto, um claro atentado contra a natureza e o relógio biológico dos acreanos de pé rachado, ou seja, aqueles que nasceram e se criaram na terra de Galvéz.

Mas, além de ferir as leis da natureza que imperam na região tropical onde o Acre está inserido, a mudança da hora feita por Decreto modifica não apenas o ideal da revolução acreana, mas o dos autonomistas, que sempre lutaram por um Acre Estado autônomo e dono de seu próprio destino. Um Acre onde os próprios acreanos poderiam decidir com liberdade e democracia "as questões acreanas". Sem depender, como ocorria quando ainda éramos Território Federal, das decisões unilaterais tomadas nos gabinetes de Brasília.

Ao se render a interesses empresariais e colocar a vaidade pessoal à frente do interesse público e da democracia, o Senador Tião Viana dá uma demonstração de desprezo à pluralidade de opiniões e aos verdadeiros ideais revolucionários e autonomistas acreanos.

Nessa questão de fuso horário, regredimos por um instante aos tempos de Território Federal pois o povo não teve 'autonomia' para dizer se era a favor ou contra a mudança do fuso horário.

E como desgraça pouca é bobagem, ainda temos que assistir a esta campanha publicitária eivada de equívocos históricos. Mas o pior mesmo é saber que ela está sendo paga com recursos públicos. Onde anda o MP?

A Insegurança de quem deveria promover segurança: INEFICIÊNCIA DO ESTADO

Recebi um email de um cidadão trsite com as novas ações da Secretaria de Estado de Segurança Pública do nosso Estado no intuito de conter a onda visivel de violencia que se alastra atualemnte no nosso querido Acre de Mancio Lima à Assis Brasi. Um dos pontos considerados como principais para conter a violencia seria o conhecido toque de recolher, ou seja vilipendiar o direito do cidadão acreano de ir e vir a hora que bem quiser, e fechar casas comerciais como bares e lanchonetes em horarios pre estabelecidos, coisas bastantes conhecidas na nossa Xapuri. como se isso resolvesse o problema

Indubitavelmente, um dos mais graves problemas nacionais é o da segurança pública, vez que, como de conhecimento público, as Policias são deficientes, mal aparelhadas e, por conseqüente, incapazes de atender aos anseios sociais.

Em nosso Estado, sobretudo, em Rio Branco, mas nao somente lá como também em todos os municipios, a violência também se alastra. Claro que não nas proporções de grandes centros urbanos como São Paulo e Rio de Janeiro.

Entretanto, mesmo assim, nossas policias têm sido bastante ineficientes no combate aos crimes com maior grau de periculosidade. Culpa, é claro, do sistema, que precisa ser aperfeiçoado.

Tentando afugentar alguns fatores causadores da violência, dentre os quais se encontram o uso de substancias alcoólicas, comumente as Secretarias Estaduais de Segurança – e no Acre não é diferente -, resolvem editar resoluções com o fito sejam reduzidos os horários de funcionamento de estabelecimentos comerciais, bem como estabelecem proibições de venda de bebidas alcoólicas em logradouros públicos, estabelecendo, por conseqüente, o denominado “toque de recolher” de restaurantes, churrascarias, traileres e estabelecimentos similares.

Respeitando qualquer entendimento contrario, creio não ser esta a medida adequada.

Primeiro, porque trata igualmente os desiguais, ou seja, põe na mesma balança posturas municipais ao lado daqueles que sequer possuem alvará de funcionamento das prefeituras, além de considerar que todo o estabelecimento que venha funcionar fora dos horários estabelecidos na resolução atenta contra a ordem, tranqüilidade e a paz social.

Não se pode generalizar. Arremate-se, toda generalização é condenável.

O fechamento de bares e restaurantes deve ser medida excepcional, depois, da analise de cada caso, criteriosa e objetiva, não podendo jamais ser estendida a todos indiscriminadamente, como faz, equivocadamente, as resoluções oriundas das Secretarias de Segurança de nosso País.

Dessa forma, ao contrário da instituição do “toque de recolher”, deveriam – em verdade devem – ser adotadas providências e procedimentos eficazes, sérios coerentes e criteriosos de combate a violência, ou seja, uma política preventiva, aliada da coletividade, que saia ás ruas, que dê segurança ao cidadão.

A titulo de exemplo, cite-se a criação das guardas municipais e que seja feita uma ronda permanente em ruas, praças e bairros da cidade, sendo, pois, imperioso, neste mister, que o chefe do Executivo priorize a segurança publica, não deixando que o cidadão fique a mercê do bandido, tomando um conjunto de medidas eficazes no combate a violência e destinando verbas suficientes para esse fim.

Noutro rumo, saliente-se que nem mesmo uma lei, de natureza municipal ou estadual, pode abolir ou limitar indiscriminadamente o trabalho noturno, visto que tornaria letra morta a disposição legal preconizada no artigo 73, §2°, da Consolidação das Leis do Trabalho, sem dizer de atentar contra as normas de direito internacional sobre o trabalho noturno constantes de Convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e invadindo também a esfera da competência constitucional, que prevê o trabalho noturno como direito social do trabalhador (artigo 7°, inciso IX, CF/ 88).

O continuar do famigerado “toque de recolher”, como vem fazendo os órgãos da segurança pública, que usando falsamente como premissa o combate à violência e ao crime, desrespeita ainda os direitos e garantias individuais e coletivas (artigo 5°, incisos XIII e XV, CF), além de violar o consagrado principio de qualquer trabalho, oficio ou profissão, especificamente, o direito social do trabalho noturno, assegurados pela Constituição Federal (artigo 7°, inciso IX) e na Consolidação das Leis do Trabalho (artigo 73).

Não bastasse tudo isto, as resoluções instituidoras do “toque de recolher” são inconstitucionais, porquanto não tem forca de lei, pois que “ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa se não em virtude da lei”, na forma preconizada no artigo 5º, inciso II, da Constituição Federal, sendo, portanto, tal ato atacável via de competente ordem de mandado de segurança e ação direta de inconstitucionalidade.

Enfim, a redução da violência não se alcançará com a instituição do “toque de recolher” de restaurantes, churrascarias traileres, e estabelecimentos similares. Efetivamente ocorrerá quando forem adotados um conjunto de ações com a finalidade de combater suas causas, tais como investimento maciço na educação fundamental e no ensino técnico, na adoção de medidas de concentração das favelas, na possibilidade de acesso de todos a uma ocupação digna, na revitalização do sistema publico de saúde e segurança.

Somente para alfinetar!!!!!

Ibama/Acre discorda de relatório do TCU

O Superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Anselmo Forneck, criticou em entrevista, realizada na manhã de ontem, o relatório produzido pela auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU). No relatório, contêm várias irregularidades dos serviços prestados pelo Ibama.

Algumas dessas irregularidades se baseiam na falta de integração para com outros órgãos responsáveis pela questão amazônica, insuficiência d e fiscalização, poucos recursos financeiros e destino oculto das madeiras apreendidas.

Primeiramente, Anselmo Forneck não concorda com os dados de quantidade de madeira (m³) apreendida e destinada, no período de 2004 a 2006, que o TCU apresenta. Diz que o relatório foi feito por quem não conhece os serviços, pois não foi levado em consideração o índice.

“Fizemos várias apreensões e doações nesse período. Uma delas foi de 5 mil m³ de madeiras apreendidas em Vista Alegre do Abunã, onde a doação foi feita para o Estado, para o 7º BEC e para o 5º Batalhão de Construção de Porto Velho, Portanto, os dados que constam no relatório não procede”, disse o superintendente.

O relatório apresenta que em 2004 o Ibama não informou o número de madeiras apreendidas e nem sua destinação. Em 2005, apenas 241,46 madeiras foram apreendidas, porém não informaram o destino delas. Em 2006, houve a mesma situação, 1.222,38 de madeiras aprendidas sem dados informados sobre o destino.

O analista ambiental do Ibama informou que foram apreendidos mais de 20 mil m³ de madeira, entre toras e madeira serrada, de 2006 até o presente.


Fiscalização está reforçada
Existem 33 fiscais oficialmente designados para atividade de fiscalização por meio de portaria. Destes, cerca de 18 estão constantemente no campo, os outros 15 também participam, mas estão envolvidos com outras atividades administrativas.

Contando com outros funcionários, que não são fiscais, há um efetivo de 47 pessoas aproximadamente que podem participar de operações de fiscalização no Estado do Acre, mas simultaneamente, não é possível dispor de todos devido às atividades administrativas na Superintendência e nos Escritórios municipais.

De acordo com o analista ambiental, as áreas onde há fiscalização intensa e constante é na Região da Ponta do Abunã e Boca do Acre (engloba municípios de Boca do Acre, Lábrea e Pauní do Amazonas e Porto Velho- RO), Regionais do Alto e Baixo Acre, e num raio de aproximadamente 50 km de ambos os lados da BR-364 no sentido Rio Branco – Cruzeiro do Sul, com ênfase nas áreas de maior pressão próximas dos municípios de Sena Madureira, Manoel Urbano, Feijó e Tarauacá.

Outras áreas: Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima, Rodrigues Alves, Guajará e Ipixuna no Estado do Amazonas. Nesta última regional são intensas as fiscalizações na fronteira como Peru, devido à retirada ilegal de madeira no Parque Nacional da Serra do Divisor pelos madeireiros peruanos.


Contingente humano
No relatório também consta que falta contingente humano dentro do Ibama para o tamanho das atividades existentes. Sobre isso Anselmo Forneck ressalta que está registrado há muitos anos e que o governo federal tentou solucionar esse impasse na Amazônia, porém não obteve resultados.

“O governo federal tentou solucionar esse impasse, principalmente na Amazônia, pelo concurso público, realizado em 2002-2003, no qual foram chamados os analistas ambientais desses concursos, mas por outro lado, a maior parte desses concursados que assumiram as vagas, na região da Amazônia, já voltaram para suas regiões de origem, ou para outras regiões, então há de fato a regeneração”, ressaltou.

Anselmo Forneck, acrescenta que a instituição, de 2003 a 2008 precisa ser retomada, para não abrir uma lacuna nos serviços. E diz que os recursos financeiros disponibilizados são suficientes para os serviços desenvolvidos.

“Ocorrerão aposentadorias em março de 2009 e 2010, e abrirão uma lacuna muito grande para instituição, por isso é necessário um concurso público ainda nesse ano e em 2009. Sobre os recursos, a instituição recebe o suficiente” acrescentou.


Incra tem plano de assentamentos
Em muitos pontos levantados no relatório pela auditoria do TCU, referente ao Instituto Nacional de Colonização Agrária (Incra), foi concordado alguns problemas pelos servidores da instituição. Entre eles está a insuficiência de funcionários, de recursos financeiros destinados à instituição e integração aos outros órgãos em serviços interligados.

O superin-tendente não se encontrava no setor para falar sobre o assunto, portanto outros funcionários concederam a entrevista, e entre as irregularidades, eles apenas não concordaram com a falta de controle das terras rurais da Amazônia e a baixa efetividade de atuação para criar assentamentos sustentáveis.

Segundo o chefe de divisão de obtenção de terras, João Ricardo há um plano de trabalho para ações relativas às questões ambientais, notadamente no que diz respeito ao Licenciamento Ambiental dos Projetos se Assentamento de Reforma Agrária, cumprindo à Resolução do Conama 387/06 e do Acórdão 2633/2007 – Plenário do TCU, de dezembro de 2007.

“Nesse plano há uma relação de assentamentos que serão licenciados em 2008 fora os protocolados. Somente em nesse ano, 46 assentamentos serão criados. Em 2009, está previsto 20 e para 2010, mais 23. Importante ressaltar que todos eles serão criados em vários municípios, não será concentrado em apenas em um”, afirmou João Ricardo.

João Ricardo diz que a falta de integração entre os órgãos, que consta no relatório, principalmente do Incra, Ibama e Imac, estão sendo descobertos recentemente, não só no papel, mas na prática.

“Poderia estar acontecendo um projeto de gestão compartilhada, o Ibama por meio da fiscalização com o Imac, mas isso nunca aconteceu, agora que todos estão se dando conta da importância desse projeto, na prática” disse.

Sobre a insuficiência de funcionários e de recursos, o coordenador do grupo técnico do Incra, Aristóteles Barros de Medeiros, argumenta que o repasse é pouco e chega em cerca de R$ 16,5 mil, o que não dá para as despesas.

“É muito pouco. Temos despesas com combustíveis, contratação de arqueólogos, diárias, materiais em geral e publicação de editais. O Incra é um órgão de reforma agrária, mas a demanda é muito grande” argumentou Aristóteles Barros. (Ana Paula Batalha)

Pertencer

Clarice Lispector

Um amigo meu, médico, assegurou-me que desde o berço a criança sente o ambiente, a criança quer: nela o ser humano, no berço mesmo, já começou.

Tenho certeza de que no berço a minha primeira vontade foi a de pertencer. Por motivos que aqui não importam, eu de algum modo devia estar sentindo que não pertencia a nada e a ninguém. Nasci de graça.
Se no berço experimentei esta fome humana, ela continua a me acompanhar pela vida afora, como se fosse um destino. A ponto de meu coração se contrair de inveja e desejo quando vejo uma freira: ela pertence a Deus.

Exatamente porque é tão forte em mim a fome de me dar a algo ou a alguém, é que me tornei bastante arisca: tenho medo de revelar de quanto preciso e de como sou pobre. Sou, sim. Muito pobre. Só tenho um corpo e uma alma. E preciso de mais do que isso.

Com o tempo, sobretudo os últimos anos, perdi o jeito de ser gente. Não sei mais como se é. E uma espécie toda nova de "solidão de não pertencer" começou a me invadir como heras num muro.
Se meu desejo mais antigo é o de pertencer, por que então nunca fiz parte de clubes ou de associações? Porque não é isso que eu chamo de pertencer. O que eu queria, e não posso, é por exemplo que tudo o que me viesse de bom de dentro de mim eu pudesse dar àquilo que eu pertenço. Mesmo minhas alegrias, como são solitárias às vezes. E uma alegria solitária pode se tornar patética. É como ficar com um presente todo embrulhado em papel enfeitado de presente nas mãos - e não ter a quem dizer: tome, é seu, abra-o! Não querendo me ver em situações patéticas e, por uma espécie de contenção, evitando o tom de tragédia, raramente embrulho com papel de presente os meus sentimentos.

Pertencer não vem apenas de ser fraca e precisar unir-se a algo ou a alguém mais forte. Muitas vezes a vontade intensa de pertencer vem em mim de minha própria força - eu quero pertencer para que minha força não seja inútil e fortifique uma pessoa ou uma coisa.
Quase consigo me visualizar no berço, quase consigo reproduzir em mim a vaga e no entanto premente sensação de precisar pertencer. Por motivos que nem minha mãe nem meu pai podiam controlar, eu nasci e fiquei apenas: nascida.

No entanto fui preparada para ser dada à luz de um modo tão bonito. Minha mãe já estava doente, e, por uma superstição bastante espalhada, acreditava-se que ter um filho curava uma mulher de uma doença. Então fui deliberadamente criada: com amor e esperança. Só que não curei minha mãe. E sinto até hoje essa carga de culpa: fizeram-me para uma missão determinada e eu falhei. Como se contassem comigo nas trincheiras de uma guerra e eu tivesse desertado. Sei que meus pais me perdoaram por eu ter nascido em vão e tê-los traído na grande esperança.
Mas eu, eu não me perdôo. Quereria que simplesmente se tivesse feito um milagre: eu nascer e curar minha mãe. Então, sim: eu teria pertencido a meu pai e a minha mãe. Eu nem podia confiar a alguém essa espécie de solidão de não pertencer porque, como desertor, eu tinha o segredo da fuga que por vergonha não podia ser conhecido.

A vida me fez de vez em quando pertencer, como se fosse para me dar a medida do que eu perco não pertencendo. E então eu soube: pertencer é viver. Experimentei-o com a sede de quem está no deserto e bebe sôfrego os últimos goles de água de um cantil. E depois a sede volta e é no deserto mesmo que caminho!

O PLANO DE DEUS É ENTUSIASMAR TODOS OS HOMENS

O mundo moderno tem apresentado características que levam o homem a um permanente estado de competitividade. A luta pelo mercado de trabalho e a falta de opções de negócios, diante do crescente aumento populacional — ou seja, do número de concorrentes — tornam desgastante e quase obstinada a luta por oportunidades. Por exemplo, se um jovem não se preparar para o futuro, que chances poderá ter para alcançar sucesso em sua carreira profissional e mesmo em sua vida familiar? Vemos que, em qualquer rumo tomado, existe uma necessidade constante de condições para perseverarmos na busca de nossos objetivos. Dessa forma, vemos que precisamos de algo que nos impulsione e sustente: o poder do entusiasmo.

Uma pessoa entusiasmada é aquela que sabe o que deseja, conhece o que está fazendo, mantém sua meta e envolve outros com sua disposição. Entusiasmo não é somente ser otimista, mas é ter algo mais concreto, não fundamentado em devaneios. Evidentemente, podemos e devemos ter anseios e perspectivas, mas qual a capacidade que temos para realizar esses projetos mentais? Como concretizar aquilo que imaginamos, mas ainda não é real? O homem de hoje precisa ter um alvo; mesmo uma criança, em seu processo educativo, necessita aprender a estabelecer objetivos. A experiência humana revela uma infinidade de interações entre a concepção de metas e a busca para atingi-las. O poder do entusiasmo pode tornar-se o grande fator de diferença entre o sucesso e o fracasso de uma vida.

Sem dúvida, diante de tais considerações, desejamos ser "entusiasmados". Mas como e onde obter tal condição? Muitas teorias tão bem apresentadas animam os que as conhecem; no entanto, ao serem praticadas, tornam-se verdadeiras decepções. Por que isto acontece? O problema estaria na teoria ou na prática? Na maioria das vezes acabamos por não obter a resposta e, com o tempo, esquecemos tanto a teoria como a prática. E quanto ao poder do entusiasmo, será que se trata de mais um desses casos?

Os filhos de Deus pela fé se tornam co- participantes da natureza divina

Entusiasmo é uma palavra que vem do grego (*). Seu radical é "théos", que significa Deus. Ser entusiamado, no sentido literal da palavra, é estar sob o poder divino. Logo, o poder do entusiamo nada mais é do que ter a vida de Deus, com todo o Seu poder, dentro de nós. Se reconhecemos que Deus é o criador de todas as coisas, devemos também perceber que Ele é capaz de trazer à existência aquilo que não existe. Por outro lado, não devemos pensar que o homem não pode fazer nada; é evidente que pode, apesar de sua capacidade ser restrita. E quanto a Deus, qual é Sua limitação? Muitos podem achar que são entusiasmados, mas o verdadeiro possuidor de entusiasmo é aquele que possui o verdadeiro Deus dentro de si: "Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna" (1 João 5:20). Se você O receber, isto fará uma grande diferença. "Tudo posso naquele que me fortalece" (Carta do Apóstolo Paulo aos Filipenses, Capítulo 4, Versículo 13). "Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós" (Carta do Apóstolo Paulo aos Efésios, Capítulo 3, Versículo 20).

RONDONIA ULTRAPASSA MATO GROSSO E PARÁ NO ÍNDICE DE DESMATAMENTO

Segundo matéria veiculada pelo Portal Terra nesta terça-feira, Rondônia ultrapassou Pará e Mato Grosso, habituais devastadores da floresta amazônica, e agora é vista como principal vilã do Norte do País. O estudo mostra o envolvimento de madeireiros e políticos no desmatamento de unidades de conservação localizadas em áreas indígenas no Estado de Rondônia. Preparado pelo Grupo de Trabalho Amazônico no Estado (GTA), o texto aponta as razões de Rondônia ter ultrapassado tradicionais campeões de devastação, como Pará e Mato Grosso, quando se avalia o índice de desmatamento acumulado. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) indicam que, em julho de 2007, o desmatamento chegou a 9 milhões de hectares, o equivalente a mais de um terço da área total do Estado.
O relatório do GTA será divulgado durante cerimônia de celebração do acordo dos Surui com o programa Google Earth, que passa a mapear o território da aldeia Sete de Setembro e a medir o desmatamento.

O texto avalia as implicações socioambientais do desmatamento das áreas de proteção ambiental e relata casos de expulsão de comunidades por grupos de homens armados, que buscam se apoderar de terras nas áreas de reserva. O índio Almir Surui, coordenador da Associação Metareilá do Povo Indígena Surui, é um exemplo. Ele teve de deixar Rondônia por causa das ameaças de morte. O trabalho traz ainda propostas capazes de reduzir o desmatamento e reduzir a violência.

Fonte: RONDONIAGORA.COM e Portal Terra
Autor: RONDONIAGORA.COM e Portal Terra

O drama dos municípios

Segundo estudo de economista do Instituto Brasileiro de Administração Municipal (Ibam), receita virá da reestimativa de receita do Imposto de Renda e do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). O crescimento da economia já garante em 2008 pelo menos mais R$ 1,645 bilhão às prefeituras brasileiras via Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Segundo estimativa, o aumento virá da reestimativa de receita do Imposto de Renda (IR) e do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). A cidade de São Paulo receberá mais R$ 4.155.832,94, cifra relativamente pequena, mas cidades menores e mais pobres terão algo perto do equivalente a uma folha de pagamento mensal - na prática, o 13º salário.

São Paulo é a cidade com maior renda per capita, por isso recebe menos.
O FPM é distribuído levando em conta renda e população: o município que tem mais população e menos capacidade de arrecadação própria - ou seja, é mais pobre - ganha mais do fundo federal. No segundo semestre do ano passado, uma mudança na legislação aumentou o FPM em 1% , a ser repassado em 10 de dezembro, integralmente, com base na receita até 30 de novembro. Em agosto de 2007, no início da elaboração do Orçamento, a receita do FPM para 2008 foi estimada em 36,260 bilhões. O ritmo forte da economia, contudo, turbinou as receitas nos primeiros meses de 2008. 'Só a última revisão da arrecadação esperada com os três principais tributos federais prevê um adicional da ordem de R$ 12,8 bilhões. O aumento, de acordo com o estudo, só no IR, é de R$ 6 bilhões.

Mesmo descontados recursos federais destinados ao ajuste fiscal e aos repasses a estados e municípios, as receitas federais aumentarão R$ 11 bilhões, apesar do fim da Contribuição Provisória Sobre Movimentação Financeira (CPMF), no fim de 2007.
O FPM recebe 23,5% dos IR e do IPI. Considerando que o IPI corresponde a aproximadamente 16,8% do valor arrecadado com o IR, o aumento com a arrecadação dos tributos que formam o FPM será de R$ 7,018 bilhões. O R$ 1,645 bilhão corresponde a 23,5% desses impostos. Apesar de tudo, os municípios continuam sonhando com um novo pacto federativo capaz de corrigir distorções e injustiças. As prefeituras têm muitas responsabilidades e poucos recursos financeiros.
A maioria depende de convênios com os governos federal e estadual para sobreviverem.

Missa em memória a Ivair Higino acontece nesta quarta na Catedral

Sindicalista era considerado “braço forte”de Chico Mendes

Nesta quarta-feira (18), familiares, amigos e simpatizantes da causa defendida pelo sindicalista Ivair Higino estarão na Catedral Nossa Senhora de Nazaré, para celebração da missa que vai lembrar os 20 anos de sua morte.

Ivair Higino nasceu no estado de Minas Gerais, e veio para o Acre em 1985 junto com a família, que assim vários trabalhadores de outras regiões do país se mudou para o Acre para ocupar projetos de assentamentos que estavam sendo implantados aqui pelo INCRA.

Defensor dos direitos de seringueiros e colonos, Ivair era considerado “braço forte”de Chico Mendes, com quem tinha muito em comum: ambos lutavam em defesa da floresta amazônica, da reforma agrária, e já avistavam o desenvolvimento sustentável como a única forma de atingir o progresso econômico e social, pois o meio ambiente estaria preservado. Além de compartilharem os mesmos ideais, os dois sindicalistas morreram no mesmo ano, e pelos mesmos motivos.

“Ele (Ivair) continua sendo um personagem importante da história do Acre, porque foi um dos que lutaram contra a ganância e ambição desenfreadas de fazendeiros”, declarou Ângela Mendes, presidente do Comitê Chico Mendes.

Ivair Higino foi assassinado no dia 18 de junho, praticamente na porta de casa, quando ia buscar leite para o filho recém-nascido. O sindicalista era o mais velho de uma família de seis irmãos, e devido ao seu trabalho junto à comunidade rural ficou logo conhecido na região de Xapuri, onde era considerado um verdadeiro líder.

A morte do sindicalista completa 20 anos nesta quarta-feira. Durante todos esses anos, a família daquele que é considerado um dos mártires ainda amarga o sabor da injustiça. O julgamento dos acusados do crime aconteceu recentemente, mas dos três, apenas um foi condenado: Oloci Alves da Silva, filho do fazendeiro Darli Alves, recebeu como punição uma pena de oito anos de reclusão em regime semi-aberto. A sentença teve repercussão negativa e causou revolta nos familiares, amigos e nas pessoas que lutam para que a luta e morte de Ivair não tenham sido em vão.

“Às vezes a justiça brasileira é falha porque pune os bons, e solta os maus. O Ivair estava lutando pelo direito à vida, pelo direito à posse da terra, era um cidadão de bem, que lutava em favor dos menos favorecidos, e que por isso foi morto. Essa decisão judicial favorece a impunidade, mas não enfraquece a luta, porque ela é de todos nós”, disse Abraim Farhat, ativista dos direitos humanos e membro do Comitê Chico Mendes.

A CPT (Comissão Pastoral da Terra), entidade ligada à Igreja Católica e o Comitê Chico Mendes convidaram lideranças que representam os mais diversos segmentos da sociedade para participarem da missa, que acontece a partir das 19h.

Acre é o campeão nacional em crianças fora da escola


Cristiane Alves de Lima completou 7 anos em 2007. Onde mora, no seringal Iracema, na zona rural de Xapuri, a 190 quilômetros de Rio Branco, a menina não teve festa nem bolo no dia do aniversário. E ainda deixou de ganhar um valioso presente: não foi matriculada na escola. Neste ano, a situação se repetiria se dependesse apenas da família. Mas a Secretaria da Educação local descobriu que ela e dois irmãos – Antônio José, 13 anos, e Cleusa, 11 – ficavam em casa ou ajudavam o pai, o seringueiro Francisco de Assis Alves de Lima, nas coletas na floresta. Dois coordenadores pedagógicos foram até o sítio da família e, depois de muita conversa (e uma dose de pressão), convenceram Francisco de que não só o ensino é importante, mas que ele tem responsabilidades legais por não levar os filhos às aulas – segundo a Constituição, os pais ou responsáveis podem até ser detidos em situações desse tipo.

Não fosse a ação firme dos agentes da secretaria, Cristiane e seus irmãos continuariam a fazer parte dos 2,4% de brasileiros entre 7 e 14 anos que estão fora da escola. A porcentagem parece pequena, mas representa 660 mil crianças e jovens, um número respeitável se pensarmos no discurso oficial de que já alcançamos a universalização do Ensino Fundamental. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, feita em 2006 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que os estados do Norte e do Nordeste têm os piores índices de exclusão. E o Acre é o líder desse triste ranking.

Essa estatística inclui tanto os que largaram os estudos quanto os que nem chegaram a ser matriculados. "As principais causas para a não-escolarização, em ambos os casos, estão em questões famiiares e culturais, envolvimento com drogas ou com o trabalho precoce e a falta de transporte ou de documentação", explica Maria Lúcia Vieira, responsável pelo levantamento. A situação é ainda mais preocupante quando se cruzam esses dados com os de freqüência efetiva e com as taxas de repetência – e, assim, temos uma dimensão um pouco mais precisa do tamanho do buraco em que se encontra a Educação brasileira. Estudo conduzido no ano passado pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV), do Rio de Janeiro, revela que apenas 72% dos estudantes matriculados nas escolas efetivamente estão nas classes. Os 28% restantes, embora tenham o nome na lista de chamada, faltam muito ou não assistem à jornada considerada mínima para o aprendizado (cinco horas diárias). "Ou seja, estudando realmente não tem tanta gente assim", conclui Marcelo Neri, responsável pela tabulação.

"O não-comparecimento é uma das principais causas de repetência e desencadeia outros problemas, como a distorção idade-série, o abandono e a evasão", completa Zaia Brandão, do Grupo de Pesquisa em Sociologia da Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. De fato, relatório finalizado em abril pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) aponta que 53,8% dos que iniciam o 1º ano não chegam ao 9º. Desses, uma pequena parcela volta às salas de aula de Educação de Jovens e Adultos.

Daí ser importante articular as políticas públicas para garantir que 100% de nossas crianças e nossos jovens não só estejam efetivamente estudando como aprendendo e se desenvolvendo. A tarefa não é fácil. Três são os principais problemas para avançar nessa direção e superar as dificuldades a fim de construir uma escola de qualidade: o trabalho infantil, a ignorância das famílias que não valorizam o ensino e questões ligadas a violência, drogas e pobreza.

O vilão nº 1: trabalho infantil - Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), 20% dos alunos em idade escolar param de estudar por exercer uma atividade remunerada. Para minimizar o problema, o governo vinculou programas de transferência de renda para a população carente (como o Bolsa Família) à matrícula das crianças em idade escolar. Isso deveria incentivar os pais a manter os filhos na sala de aula. Números do IBGE, no entanto, mostram que ainda há um longo caminho a percorrer: nos domicílios que não recebem o benefício, 2,1% das crianças estão fora da rede, e esse número chega a 2,8% entre os que começaram o ano recebendo o dinheiro (se os filhos faltarem por meses consecutivos, a ajuda é suspensa no ano seguinte). "Infelizmente, o desenvolvimento econômico não puxa o social na mesma proporção e ritmo. Por isso, o progresso do país não basta para resolver a questão", analisa Renato Mendes, coordenador da OIT. "Precisamos de crescimento local sustentável para que os adultos tenham emprego e não usem a força de trabalho dos filhos." Entre os 5 e os 13 anos, existem 4,5% de brasileirinhos na labuta – cerca de 1,4 milhão. Geralmente eles são empregados eventuais, que faltam um ou dois dias às classes, de forma irregular, como revela a pesquisa da FGV e da Unesco. "Existe a falsa impressão de que a criança assiste às aulas, mas é óbvio que a atividade remunerada atrapalha o desempenho e desestimula os estudos", diz Mendes.

Em Arapiraca, a 140 quilômetros de Maceió, a indústria do fumo é forte e marcada pelo emprego do trabalho infantil. Meninos como Rafael da Silva, 14 anos, ganhavam para "destalar" as folhas (arrancar os talos) e "desolhar" os pés de fumo (tirar os brotos para garantir o crescimento normal da planta). Na primeira metade do ano, a mão-de-obra infantil era requisitada no contraturno, em casa ou na fábrica. No segundo semestre, porém, havia debandada geral, pois parte dos estudantes seguia com os parentes para o interior
a fim de ajudar na colheita.

Para transformar essa realidade, a prefeitura passou a construir escolas de tempo integral. O projeto, iniciado no ano passado, conseguiu reduzir de 16% para zero a média de evasão nas unidades que adotaram o sistema. Uma delas, a EM Zélia Barbosa Rocha, fica no prédio de uma antiga fábrica de fumo (onde Rafael estuda hoje). A principal sala de manufatura de fumo de corda virou um teatro, palco das aulas de caratê e circo. Os outros departamentos se tornaram salas para abrigar as classes regulares. Os familiares, que antes viam a criança como "mão-de-obra mirim desocupada", agora percebem que o ganho é maior no estudo. "Rafael tirava 50 ou 60 reais por mês. Aprendemos a viver sem esse dinheiro porque percebemos que ele está melhor e mais feliz aqui", afirma a mãe, Claudênia da Conceição. Em 2009, cinco unidades devem funcionar em período integral em Arapiraca.

Dar mais valor à Educação
Nas regiões carentes, sobretudo na zona rural, a principal causa do não-comparecimento à escola é a pouca importância que as famílias dão à Educação, como no caso de Francisco Lima, citado no início do texto. Essa situação se traduz num misto de falta de informação, descrédito no governo e comodismo: "Vai pra escola pra quê? Tem necessidade?" Só um trabalho de convencimento, como o feito em Xapuri, dá resultados. Informações sobre as possíveis sanções legais também ajudam. "Raramente pais que não estudaram dão importância à escola, por isso é preciso conversar e fazê-los mudar de idéia", diz Roberto de Figueiredo Caldas, presidente da Comissão Nacional de Direitos Sociais da Ordem dos Advogados do Brasil. Várias prefeituras adotam esse modelo de resgate individual. Equipes de educadores são designadas para localizar as crianças que estão fora do sistema. Para isso, as estratégias vão desde o cruzamento das matrículas atuais com as do ano anterior até a verificação de mapas demográficos. O boca-a-boca também é útil, pois vizinhos e pessoas conhecidas da família ajudam a localizar os pais que mantêm as crianças longe das classes. O trabalho é de formiguinha mas dá resultado: Xapuri, que em 2006 tinha 30 alunos fora da escola, já resgatou 23, entre eles os três filhos de Francisco.

O resgate da situação de rua - Nas grandes cidades, o nó é igualmente dfícil de desamarrar. Muitas vezes, a realidade que as crianças mais pobres vivem em casa – violência doméstica, drogas, prostituição e desemprego – faz com que elas prefiram uma solução cruel: morar embaixo de um viaduto, dentro de um túnel, sob uma marquise. Os jovens fogem da família, da escola e do bairro e se tornam os chamados meninos e meninas em situação de rua. Conselheiros tutelares e agentes da prefeitura se esforçam para levar esses menores para abrigos. Mas às vezes o atendimento para por aí, quando o objetivo maior deveria ser levá-los novamente para a comunidade.

São Paulo trabalha para provar que esse resgate é possível. Graças a uma parceria com o Projeto Quixote, instituição que atua para consolidar o rematriamento (neologismo criado para expressar a volta para a mãe), assistentes sociais empreendem um longo esforço para se aproximar dos jovens e, pouco a pouco, obter informações pessoais, principalmente o endereço da casa deixada para trás. "Muitos não são viciados. Mas às vezes usam entorpecentes para esquecer o passado traumático", afirma Isabel Ferreira, do Quixote. O primeiro contato pode demorar meses. Quando ele acontece, duas ações correm paralelamente: enquanto o menor é convidado – mas nunca forçado – a ir para um abrigo temporário (e, com o tempo, retomar os estudos), a família é procurada pelos assistentes sociais. "Com tratamento psicológico e longe das ruas, é possível que ele volte para casa e seja matriculado na escola mais próxima", explica Auro Lescher, coordenador-geral da entidade. "Da mesma forma, os familiares tendem a nos tratar melhor quando sabem que conhecemos o filho, e assim fica mais fácil prosseguir o rematriamento", relata Isabel.

Inicia-se aí uma fase em que diversos órgãos e entidades são mobilizados. O conselho tutelar e as secretarias de Assistência Social, Saúde e Educação passam a atuar em conjunto. O apoio estruturado aos pais pode incluir, além de tratamento médico ou psicológico, a oferta de micro-crédito e credenciamento em programas governamentais de reinserção no mercado de trabalho. Quando a família tem condições favoráveis de convívio, o menor permanece em casa. Em três anos de atuação, o Quixote atendeu mil crianças, encontrou 200 famílias e reintegrou 30 jovens à escola. Em média, o processo todo demora cerca de um ano. Pela complexidade do problema, os números ainda são tímidos, mas apontam para uma possível solução para as metrópoles. De um em um, o Brasil pode, sim, conquistar a tão almejada universalização de fato do Ensino Fundamental, sem deixar nem um aluno fora da escola.

Enquanto isso na Politica Acreana

PARQUES DO PLEISTOCENO NO BRASIL

Enquanto em toda a África existem apenas cinco mamíferos mais pesados que uma tonelada (elefante, duas espécies de rinocerontes, hipopótamo e o macho da girafa), na América do Sul durante o Pleistoceno havia entre dez a doze espécies acima de uma tonelada numa única localidade


Mauro Galetti, PhD
Grupo de Fenologia e Dispersão de Sementes, Departamento de Ecologia (UNESP-Rio Claro), mgaletti@rc.unesp.br

Nos últimos anos diversos pesquisadores tem sugerido a introdução de grandes predadores e herbívoros para a reconstrução de ecossistemas naturais. A introdução de lobos, ursos, pumas e até mesmo espécies exóticas como elefantes e camelos têm sido sugerida pelos pequisadores para reestabelecer processos ecológicos de diversos ecossistemas norte-americanos, de florestas a desertos (Martin and Burney 2000).

Mesmo os bem equipados parques nacionais norte-americanos falharam em proteger toda a diversidade de grandes mamíferos como ursos, coiotes e lobos (Newmark 1987). Esses predadores de topo de cadeia alimentar são considerados “chaves” para a manutenção de todo o ecossistema, pois regulam as populações de herbívoros. Sem esses predadores, há uma aumento desproporcional nas populações de herbívoros e mesopredadores (como raposas, mão-peladas e esquilos), que sobrecarregam as populações de plantas e pequenos animais que são seus alimentos (Terborgh 1992, Crooks & Soulé 1999).

Muito antes da chegada dos primeiros humanos nas Américas, as savanas norte americanas comportavam pelo menos 41 espécies de grandes mamíferos, incluindo cavalos selvagens, bisões, camelos, tatus-gigantes, mamutes e preguiças-gigantes (Anderson 1995), enquanto na América do Sul, essa diversidade era bem maior (Cartelle, 1999, Fariña et al. 1998). Esses megamamíferos desempenhavam um papel extremamente importante na estrutura das comunidades vegetais e os efeitos dessa extinção prematura ainda é pouco entendida (Janzen & Martin 1982, Janzen 1986).

Alguns pesquisadores sugerem que há evidências suficientes que demonstram que os homens primitivos tiveram um papel preponderante na extinção de mamutes, preguiças gigantes, camelos, lhamas, gliptodontes, cavalos e outras espécies de mamíferos de grande porte, a chamada “megafauna” (Martin 1995, Haynes 2001). Existe uma forte correlação entre colonização e o crescimento de populações humanas (visível no registro arqueológico) e a extinção de grandes aves e mamíferos em todo o planeta.

Um aspecto importante é que, embora as mudanças climáticas do final do Pleistoceno tenha ocorrido ao mesmo de tempo em todo o mundo, a extinção da megafauna se iniciou a 40.000 anos na África e Austrália, 12.000 anos nas Américas e menos de 1.000 anos em Madagascar e Nova Zelândia (Martin 1995, Flannery 1995).

Outros pesquisadores, por sua vez, sugerem que mudanças climáticas, por si só, teriam eliminado toda essa megafauna (ex. Catelle, 1999, Ficcarelli et al. 2003). Com o aumento das chuvas e da temperatura, as savanas abertas teriam se reduzido em detrimento da expansão das florestas úmidas fechadas, causando a eliminação dessa megafauna pela falta de ambiente favorável.

Esses pesquisadores não aceitam a hipótese de o homem primitivo tenha causado a extinção da megafauna alegando não haver sítios arqueológicos humanos relacionados com ossos de megafauna. Porém, os sítios com interação humanos-megafauna, mesmo não abundantes, na realidade existem mas esta evidência é desacreditada (veja Fiedel & Haunes 2004). Além disso, em muitos locais a megafauna não é restrita a ambientes abertos, mas elefantes, rinocerontes e outros gandes ungulados podem ser encontrados em florestas fechadas.

É mais provável que tanto a caça como as mudanças climáticas tenham tido importância na extinção da megafauna sul americana. Owen-Smith (1992) propõe que a extinção da megafauna pleistocênica envolveu tanto fatores climáticos como antrópicos.

A alta pressão de caça ocasionada pelos paleoíndios teria causado um declínio acentuado nas populações de megaherbívoros (como acontece hoje em diversas reservas indígenas e unidades de conservação com forte pressão de caça). As mudanças no clima, por sua vez, teriam fragmentado e reduzido a distribuição desses megaherbívoros a locais com baixa qualidade nutricional, deixando-os mais vulneráveis a extinção local, tanto por humanos como por fatores estocásticos. Soma-se a isso o fato dos mamíferos extintos possuirem baixas taxas reprodutivas, excepto as espécies noturnas ou arbóreas (Johnson 2002).

Os mamíferos e aves dependentes da megafauna (como tigres-dente-de-sabre e condores) se extinguiriam em consequência da extinção de suas presas. Na verdade, ainda sabemos pouco quais fatores causou a extinção da megafauna, mas a pergunta que talvez seja mais pertinente seja quais os efeitos da extinção da megafauna nos ecossistemas savânicos neotropicais.

Com a rápida eiminação da megafauna sul-americana (alguns autore sugerem que entre 8 e 3 mil anos atrás, De Vivo & Carmignotto dados não publicados) a ausência de grande herbívoros alavancou a dominância de algumas plantas, resultando num acúmulo de biomassa vegetal seca suscetível ao fogo. Com a extinção de presas fáceis e ingênuas, como os grandes megaherbívoros, o homem primitivo intensificou o uso do fogo para facilitar a caça dos demais mamíferos, iniciando a alteração das savanas (ou seja o cerrado), como a conhecemos hoje. É bem conhecido que todos os grupos indígenas das savanas usam o fogo para caçar veados e tamanduás-bandeiras (Prada 2001). Esse tipo de caça é tão impactante que algumas espécies de grandes mamíferos já se encontram extintas em reservas indígenas (Leeuwenberg, 1997).

A minha geração cresceu influenciada pelo “Mundo Animal” e outros programas de natureza, todos, quase sem exceção, abordando savanas africanas. Eu cresci achando que a África era o continente dos mamíferos, enquanto a América do Sul era o continente das aves. Os grandes parques africanos, como o Serengeti, Okavango, Ngorongoro ou Kruger, com suas manadas de zebras, elefantes, gnus, e tantos outros mamíferos, era a imagem de natureza selvagem.

Mamíferos de grande porte sempre atraíram e ainda atraem o interesse da maioria das pessoas. Uma prova disso é o grande número de pessoas que visitam nos zoológicos os recintos de elefantes ou rinocerontes, comparado com o do lobo guará ou capivaras.

Os biólogos sul-americanos sempre tiveram uma pequena inveja dos africanos, pela carência de grandes animais nos Neotrópicos. Poucas pessoas sabem, entretanto, que a fauna sul americana de mamíferos de grande porte era bem mais rica que a encontrada na África hoje. Se pudéssemos voltar no tempo, há menos de 10 mil anos atrás, no final do Pleistoceno, as savanas da América do Sul (como cerrado e pantanal) eram mais espetaculares que as savanas da África.

Enquanto na África existem apenas cinco mamíferos mais pesados que uma tonelada (elefante, duas espécies de rinocerontes, hipopótamo e o macho da girafa), na América do Sul durante o Pleistoceno havia mais de 38 gêneros acima de 100 kg e entre dez a doze espécies acima de uma tonelada numa única localidade (Fariña et al. 1998). Manadas de cavalos (Equus e Hippidion), preguiças gigantes chegando até a 5 toneladas (Megatherium), gonfotérios (mastodontes) que assemelhavam-se a elefantes de 4 toneladas (Stegomastodon e Haplomastodon), Macrauchenias que pareciam com camelos de 1 tonelada, o Toxodon também do tamanho e adaptações dos hipopótamos, tatus-gigantes de até 2 toneladas (Glyptodon) e capivaras de 150 quilos (Neochoerus) perambulavam pelos nossos cerrados e pelo pantanal (além da caatinga e os campos sulinos) (Fariña et al. 1998, Cartelle, 1999).

Se nos basearmos no que conhecemos dos fósseis na América do Sul e sabendo o papel ecológico dos megaherbívoros na Ásia e África, certamente todos os ecossistemas que hoje conhecemos, principalmente o cerrado e o pantanal, são resultado de uma defaunação massiva de grandes mamíferos e ambientes altamente modificados pelo homem primitivo.

O que a extinção da megafauna há milhares de anos atrás têm a ver com a conservação os ecossistemas savânicos, como o cerrado e do pantanal de hoje? A rápida remoção de uma rica e exuberante megafauna, responsável por boa parcela da riqueza de espécies e certamente pela maior parte da biomassa vertebrada destes ecossistemas, se reflete até hoje nos processos ecológicos das savanas neotropicais.

Uma comparação entre o Parque Nacional de Emas em Goiás com o Kruger National Park na África do Sul ou outros parques africanos pode elucidar e abrir novos horizontes para o entendimento dos nossos ecossistemas. O Parque Nacional de Emas é uma savana de 132 mil ha que ainda comporta uma grande diversidade de grandes mamíferos, incluindo o veado-campeiro, a anta e a onça-pintada (Silveira et al. 1999).

Emas é considerado do “Serengeti brasileiro” devido a sua semelhança com o parque africano. Qualquer visitante irá observar alguns bandos de veados-campeiros (Ozotocerus bezoarticus) em pequenos bandos alimentando-se da vegetação (Rodrigues 2003). Estima-se que o parque abrigue cerca de 1.300 veados campeiros, ou seja uma biomassa de 35 kg/km2 (Rodrigues 2003) Se incluirmos antas, queixadas, veadosmateiros e catingueiros, a biomassa de “grandes” mamíferos não ultrapassa 100 kg/km2 (F. H. G. Rodrigues, com. pess.) Nos parques africanos, por sua vez, a biomassa de grandes herbívoros pode variar de 5.000 a 22.500 kg/km2, onde gnus, zebras, elefantes, rinocerontes, impalas e outros mamíferos são vistos facilmente (Caro 1999).

No pantanal, tido como local de maior abundância de mamíferos nos neotrópicos, a biomassa de herbívoros silvestres (como veados-campeiros, cervos e capivaras) não ultrapassa 1.000 kg/km2 (Tomás et al. 2001, Mauro et al. 1998, Galetti et al. dados não publicados), enquanto a de animais exóticos, como o gado bovino, porcos-monteiro e búfalos pode alcançar mais de 5.000 kg/km2 (sem contar os cavalos) (Mourão et al. 2002). Essa alta biomassa de megafauna exótica é sustentada por pastagens naturais, que certamente deveria comportar grandes herbívoros no Pleistoceno.

Estima-se que as savanas norte-americanas antes do início do Holoceno sustentavam cerca de 9.000 kg/km2 de herbívoros, como mamutes, cavalos, bisões e outros grandes mamíferos (Martin 1973). Na região dos pampas estima-se uma biomassa pretérita de 15.500 kg/km2 de mamíferos, sendo 11.000 kg/km2 só de megaherbívoros (maiores de 1 tonelada, Farinã 1996).

O pantanal com uma área de 140.000 km2, possui 31% de pastagens naturais (cerca de 43.400 km2) (Silva et al. 2000). Utilizando-se dados sobre a capacidade suporte que as pastagens naturais do pantanal oferecem ao gado bovino, ou seja, quantos quilos de comida que cada quilometro quadrado pode oferecer (pastagem) à fauna herbívora, calcula-se que essas pastagens naturais possam sustentar cerca de 10.000 kg/km2 de megaherbívoros (isso se estipularmos uma densidade de 29 vacas/km2 e cada vaca pesando 350 kg)(Santos et al. 2002).

Esse valor é semelhante à algumas savanas africanas produtivas, mas devido as diferenças sazonais e ambientais do pantanal é provável que esse ecossistema suportasse uma biomassa maior que as africanas (veja Fariña 1996 para os campos sulinos no Paraguai). Mesmo se levarmos em conta que a 10 mil anos atrás o pantanal era mais seco e frio, bem diferente de hoje e que há diferenças grandes de produtividade dentro do pantanal devido `as cheias, a produtividade desse ecossistema poderia suportar alta biomassa de megaherbívoros.


(*) Artigo enviado pelo professor Alceu Ranzi
Ilustração: Eremotherium Preguiça gigante (esquerda), Haplomastodon Mastodonte (direita)