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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Produção mundial de preservativos é novo desafio na luta contra a aids

Governos já enfrentam dificuldade quando abrem licitação para a aquisição de uma grande quantidade de camisinhas. Aumento da fabricação esbarra na oferta limitada da principal matéria-prima, o látex, cujo preço subiu neste semestre 200% na Índia
Centrada no acesso da população a medicamentos para controlar o vírus HIV, a luta contra a aids enfrenta agora outro desafio: a incapacidade mundial de produzir a quantidade necessária de preservativos. "Não há camisinhas para todos", afirma o representante do Programa das Nações Unidas para Aids, Pedro Chequer.

Pelos cálculos da Unaids, se metade da população de 15 a 49 anos usasse camisinha uma vez por semana, seriam necessários 42,250 bilhões de preservativos por ano - quantia 2,7 vezes maior do que a produção mundial de 15,35 bilhões anuais. "É uma discussão que não podemos mais adiar", defende.

A dificuldade de governos para aquisição do produto já começa a ser sentida. Quando licitações envolvem grande quantidade de preservativos, há um número menor de empresas capacitadas para a disputa. O diretor da unidade de prevenção do Ministério da Saúde, Ivo Brito, afirma que o Brasil não enfrenta problemas para aquisição. Mas conta que o governo recusou a venda para países vizinhos interessados em comprar preservativos produzidos em Xapuri.

A fábrica de Xapuri, embora considerada um marco, está longe de atender às necessidades do País. A unidade usa como matéria-prima borracha fornecida por seringueiros do Acre. "Esse formato não permite aumentar muito a escala da produção", diz Brito. Atualmente, Xapuri fabrica 100 milhões de unidades por ano. Há potencial para que esse quantitativo seja duplicado.

O problema é que, com elevação da procura e queda da oferta, a camisinha poderá ficar mais cara. "Já é hora de se investir em fábricas no mundo", afirma. "Uma eventual dificuldade de acesso poderia colocar em risco todo trabalho de convencimento para uso de preservativos."

Borracha. Mesmo que a ampliação da produção passe a ser prioridade, haverá uma dificuldade para colocar essa meta em prática: a oferta limitada da borracha, principal matéria-prima do preservativo. Atualmente, os níveis de produção e consumo da borracha são muito parecidos. E não há um cenário de que produção possa aumentar a curto prazo. "Uma seringueira demora anos para se tornar produtiva", conta Augusto Gameiro, professor de economia agrícola da USP.

Outro problema é a alta do preço da matéria-prima. Neste semestre, a Índia registrou elevação de 200% no preço do látex, o que fez com que pequenos fabricantes deixassem o negócio. Empresas maiores têm táticas distintas: umas preferem aguardar mais um período, mas há quem já anuncie aumento de preço do produto destinado à exportação.

Gameiro atribui o aumento do preço do látex a uma série de fatores. Em primeiro lugar, a redução da mão de obra nos seringais, provocada pelo forte movimento de urbanização registrado nos países produtores. Além disso, parte dos seringais está sendo substituída por outras culturas, consideradas mais rentáveis, como a palma. "Esse processo ganhou força com o biodiesel." A dificuldade aumenta diante da concorrência para definir o destino da borracha. "A maior parte da produção mundial é destinada para fabricação de pneus. Algo que aumentou também com aquecimento do mercado automobilístico nos últimos anos", diz o professor da USP.

Gameiro afirma que a maior parte dos produtores prefere destinar seu produto para fabricação de pneus. "É mais fácil, a borracha não precisa ser de grande qualidade, bem diferente do que ocorre com preservativos."

Fonte: O Estado de S. Paulo

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