Escrito por Socorro Fonseca
Publicado originalmente no Pagina20 onlineNão é o mesmo, o paladar das pessoas. Por isso algumas preferem umas comidas e bebidas e, outras, preferem outras. Conheço pessoas com o paladar aguçado. Aqui em casa, por exemplo, um de nós, faz questão de decifrar cada um dos temperos usados na elaboração de um determinado prato: “Tem pouco sal; tem gengibre; tem pimenta do reino; deveria ter menos queijo parmesão; tem coentro; não gosto de salsa; pegaria bem manjericão; não estou comendo carne - esses dias”.
Não sou eu. Ao contrário. Esforço-me para identificar a uva dos vinhos que bebo: Cabernert Sauvignon, Malbec, Syrha, Merlot, Pinot Noir, Tannat, Tempranillo, Chardonnay. Ainda me confundo. Já das cervejas, eu só sinto se estão quentes ou geladas. Recentemente provei a Norteña - é muito boa.
Mas os sabores têm seus segredos. Não basta colocar cebola roxa, azeitonas pretas e azeite português, para garantir que, ao final, o bacalhau fique irresistivelmente bom. O segredo do bacalhau é o próprio bacalhau. Tem que ser o filé, sem espinhas, sem pele, bem alto e cuidar do ponto do sal. Cebolas, azeites, azeitonas, batatas, ovos, são apenas os complementos e que podem ser até dispensados, um ou outro.
Interessante é que eu tenho uma amiga que faz um bolo de milho tão gostoso… Mas, tão gostoso, e, no entanto, usa qualquer milho - o milho em conserva, de qualquer marca. Ficava imaginando como “aquilo” poderia ser feito. Deveria ser muito difícil. Taí a receita - disse ela. É só bater tudo no liquidificador. Fiz o bolo. Não ficou igual ao dela.
Sabores são como pessoas?
É o que parece. Alguns são intensos e dispensam complementos. Já outros, vêm da mistura de vários ingredientes e do modo como são preparados. Algumas pessoas se revelam naturalmente, pela pura essência. Já outras desabrocham conforme interagimos com elas.
Meus sabores inesquecíveis, na ordem cronológica:
Infância: farinha láctea, farofa de ovo, aluá , arroz paulista, frango assado desfiado; brigadeiro e cajuína.
Adolescência: Sanduiche misto – de uma pizzaria no centro da cidade.
Entre a juventude e a fase adulta: Gim com guaraná e tartaruga – no aniversário de um tio.
Adulta: cerveja; tijolinhos de pirarucu – feito num bar, do outro lado da ponte; Vinho Chileno; Sarapatel – feito pela minha mãe; Mojito e, o bolo de milho da minha amiga.
Um dia, comi jabuti com farofa de carne de veado, lá num seringal. Sentir as pessoas… Tenho tentado. Ainda me confundo.
Mas sei cozinhar.
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