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quinta-feira, 24 de julho de 2008

O Acre é Verde

Em passagem recente pelo Acre o Escritor Mateus Fernandes deixou registrado a sua impressao sobre o Estado e sobre Xapuri, oportunidade que tive o prazer em passar um esplendido dia em meio a conversas e muita caminhada. confira na íntegra o texto.
Há muito tempo conheci um cara chamado Fabiano Wabane, da nação Kaxinawa. Acreano.
Há algum tempo, conheci o Orlando, Jovem Focal do Acre.
Há pouco tempo, conheci a Jaycelene, nascida no Acre e trabalhando no CTA. Conheci também a Daniela, morando no Acre e trabalhando no WWF. Conheci então a Silmara, a Fernanda, a Natália... pessoas que foram achar, no Acre, novos modos de vida.

Neste final de semana, quando finalmente estive no Acre, conheci um bocado de gente. Acreanos; e também Amazonenses, Paulistas, Cariocas... Fui lá fazer parte do Lançamento Local da publicação GEO Juvenil Brasil, que ocorreu na sexta, 06/06, na enigmática e bela Biblioteca da Floresta Marina Silva, um dia depois do Dia Mundial do Meio Ambiente, no Ano Internacional do Planeta Terra. Bom tempo pra estar no Acre, não?

E conheci, também, alguns outros modos de vida. Vidas daqueles que se denominam "Povos da Floresta", governados pelo "Governo da Floresta", cercados por "Florestas" por todos os lados - florestas de árvores, florestas de cana, florestas de pasto e florestas até de gado.

Como me ensinou um jovem Apurinã: "Nos rios não há só peixes, como nas florestas não há só árvores".

Mas foi em Xapuri que pude conhecer outros cantos e encantos dessa floresta.
Se em Rio Branco me impressionei com a beleza simples, colorida e vazia da Gameleira, com a arquitetura moderna e londrina da ponte de pedestres sobre o Rio Acre, foi em Xapuri que pude conferir o sabor de uma cidade acreana, apesar de pitada de fama dada, atualmente, pelo revolucionário Chico Mendes. Xapuri é uma solitária cidade distante 180 km de Rio Branco - caminho que percorri, de carro, em meio à pastagens, canaviais e, pra minha surpresa, um pouco de floresta e seringueiras. Na verdade, por justeza histórica, deveríamos dizer que é Rio Branco que está distante de Xapuri. Ainda mais neste ano, em que completamos 20 anos da morte de Chico. O coração da floresta pulsa mais rápido, mais triste e mais bonito dali. Afinal, a Revolução Acreana viu nessa cidade o seu epicentro - que retornou no ano de 1988 com a morte do seringueiro ambientalista e cosmopolita. Em Xapuri pude, durante o almoço no Restaurante da Dona Vicência (simpática velhinha com mais de 80 anos, ex-seringueira e atual dona de um restaurante muito conhecido no município; saída aos 13 anos do Ceará, tendo percorrido o caminho durante 11 meses com a família, morou durante 34 anos no seringal São Francisco Iracema, distante de Xapuri 12 horas de barco), conhecer uma figura folclórica da cidade: Joscires, um jovem burocrata que tem no seu blog arma de fazer piada e política. Foi também em Xapuri que reencontrei um amigo-artista, nascido perto de Bonito (MS), que está agora morando no Acre pra fazer da mistura de idéias e pessoas, movimento socioambiental e cultural. Pra fazer o que ele sabe fazer, enfim: arte. Arte na Ruína, pra bem dizer. Confira o resultado no blog do movimento. Chamado pela Filha do Homem, Elenira, trabalhando na Fundação Chico Mendes e apoiando as atividades da Casa de Leitura, Wagner é uma daquelas pessoas a quem vale dar ouvidos e também uma mão - ele não vai deixar o mundo como encontrou. E, por falar em dar ouvidos, vale mesmo dar ouvidos - e muito do seu tempo e do seu coração - para a "Deusa", a carinhosa e conversadeira Deusamar, que me recebeu muito bem na Fundação. Casada com o irmão do Chico, ela realmente tem muita história pra contar...e, se souber fazer as perguntas, ela conta mesmo!

Voltando pelos quase 200 km que me separavam do centro de Rio Branco, cheguei à festa de aniversário da Madrinha Chica (outra velhinha simpática e ativa que, do alto dos seus quase 80 anos, comandava a cerimônia). Convidado por amigos fardados, a quem sou grato, pude ver no mesmo dia outra cara misteriosa da floresta - e comprovar que na floresta não tem só árvore. Um outro amigo já havia passado pela Barquinha, e seu relato engraçado deixa claro que é com graça, humor e com uma dose de ceticismo, acompanhado pela dose de Daime, que nós - os neófitos - entramos nos bailados do Centro Espírita de Caridade Príncipe Espadarte. Uma dança entusiasmante e chamativa: butuques pra todos os gostos. Música pra se dançar e não pra se escutar. Música pra entrar no corpo, e não nos ouvidos. Música que tocou a noite toda - longa e lentamente - ao contrário da bebida servida, que é pra descer rápido pela goela. Não é pra apreciar, deixando-se embriagar aos poucos, de leve, profundamente, mas pra cumprir o momento ritual. Ritual aliás, bem brasileiro e bem documentado - com teses antropológicas e tudo mais.

Vestido todo de branco, suado, cansado, com frio, com fome, e muito feliz e tranqüilo, às 7h da manhã, finalmente o dia acabou - e com a foto ao lado pude constatar, enfim, que "O Acre não é ocre, o Acre é verde"!

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