Escrito por Gabriel Perissé Excesso de segurança aumenta a insegurança. E o inseguro crônico é insaciável - quanto mais pensa e inventa modos de se salvar, mais se aproxima do abismo.
É que os seguros todos não asseguram tudo. Sempre há, debaixo da cama, no vão da escada, atrás da porta, na curva da estrada, na rua de cima, na casa ao lado, no fim da linha, virando à direita, virando à esquerda, subindo por aqui, descendo por ali... sempre há perigos à espreita.
O problema é justamente este! Norte, sul, leste, oeste... em todos os cantos há falsos amigos, ameaças, cupins e traças, suspeitos, interesseiros, oportunistas e nazistas, assaltantes, farsantes, ladrões, vilões, espertalhões, psicopatas e piratas!
Quanto mais cadeados, mais assustados ficamos com os especialistas em desencadear nossos segredos.
Quanto mais cofres, mais alarmados ficamos com os arrombadores de nossas riquezas.
Quanto mais engenhosa a senha que nos protege, mais convidativa ela é para os decifradores da nossa intimidade.
Pois aí reside o perigo maior, contra o qual não existe nenhuma defesa.
Quanto mais seguros, mais inseguros, mais vulneráveis, mais temerosos de que a segurança não segure o bastante. E a verdade mais certa é que a segurança sempre deixa uma pequena, ou grande, margem de riscos imprevisíveis.
De tanto querer segurar, prever, prevenir, a insegurança gera novos problemas, novos perigos, novos pavores, novas desconfianças, novas insônias.
O cinto de segurança pode prender o motorista no carro em chamas.
O seguro contra incêndio pode deflagrar para sempre o fogo do medo.
O remédio que previne demais pode provocar novas e incuráveis doenças.
Evitar a dor a qualquer custo pode levar a torturantes torturas.
As chaves e trancas podem me impedir de fugir a tempo.
A segurança sufocante torna o segurado cada vez mais taciturno, obrigando-o a fazer terapia para não se sentir ainda mais inseguro, para não cair na depressão (e cairá!), para não se ver oprimido pelos muros que levantou com tanta ansiedade.
A insegurança providencia novos seguros e os novos seguros produzem novas incertezas, mil e uma invasões.
Não é superstição, nem cisma tola, é filosofia de vida arraigada, que com o tempo chega aos limites da morte.
Seguro contra a vida insegura, esta vida que nos dá rasteiras, que nos apronta surpresas o tempo inteiro.
Seguro contra o mundo imperfeito, contra a sociedade traiçoeira, contra tudo e contra todos!
Gabriel Perissé é doutor em educação pela USP e escritor.
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