"Acabou-se o artifício, desmanchou-se a mágica, volta-se à realidade"
Postado originalmente no BLOG DO CARIOCA
A poetiza Cecília Meireles já dizia em um de seus textos: “Terminado o Carnaval, eis que nos encontramos com os seus melancólicos despojos: pelas ruas desertas, os pavilhões, arquibancadas e passarelas são uns tristes esqueletos de madeira; oscilam no ar farrapos de ornamentos sem sentido, magros, amarelos e encarnados, batidos pelo vento, enrodilhados em suas cordas; torres coloridas, como desmesurados brinquedos, sustentam-se de pé, intrusas, anômalas, entre as árvores e os postes. Acabou-se o artifício, desmanchou-se a mágica, volta-se à realidade”.
Nessas palavras extraídas do texto “Depois do Carnaval” (livro “Quatro Vozes”, Editora Record, Rio de Janeiro, 1998, pág. 93), a poetisa, professora, pedagoga e jornalista Cecília Meireles coloca dois pontos relevantes: a ilusão e a realidade.
Regionalizando as palavras da autora, poderíamos dizer da nossa atualidade: “Terminado o Carnaval, eis que nos encontramos com a violência e o caos na saúde pública: pelas UPAS da vida, idosos que esperam por mais de 8 horas por atendimento; no centro da cidade, indios pedem desesperadamente dinheiro para alimentar a fome que já dura há dias, e os meninos ‘cheirando cola’ para ficarem ‘doidões’. Alagação, famílias morando em áreas de riscos, obras do PAC abandonadas, estradas não concluídas...
Depois do carnaval! Nos deparamos com os números verdadeiros da violência que longe da Amadeo Barbosa, correu solta com arrombamentos, furtos, assaltos, roubos, nossa! Os números quase sempre nos surpreendem... E amanhã tem mais decepção. E olha que nem todos os números vão para os jornais supervisionados pelo próprio governo.
Depois do Carnaval! A mesma pergunta: Por que não se investe tanto em políticas sociais? E vão responder que sim, se investe, mas porque não se tem resultados? Segurança, saúde, social... Certamente não encontraremos respostas convincentes para essas velhas questões.
Porém... “Depois do Carnaval” vêm outros carnavais, por isso, cabe aqui, a frase final do texto de Cecília Meireles. Esta frase, por si só, nos dá uma noção da realidade vivida e contestada pelos menos favorecidos: “Mas, agora que o Carnaval passou, que vamos fazer de tantos quilos de miçangas, de tantos olhos faraônicos, de tantas coroas superpostas, de tantas plumas, leques, sombrinhas...?
[...] Mas os homens gostam da ilusão. E já vão preparar o próximo Carnaval...”
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