Pesquisa feita no Rio Grande do Sul alerta para o estresse na infância e indica que amizades e os vínculos sociais podem ajudar a manter as crianças livres do estresse
Pesquisa publicada no periódico Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz avaliou cerca de 900 alunos do ensino fundamental das escolas de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul. Os resultados do estudo mostram que 18,2% das crianças apresentavam estresse. No entanto, este percentual não pode ser considerado alto, uma vez que pesquisas realizadas com meninos e meninas no Estado de São Paulo encontraram prevalências entre 30% e 60%. Os dados do artigo demonstram, portanto, que o estresse não atinge apenas adultos, de modo que as famílias e as escolas devem estar atentas aos fatores que podem estar associados ao problema desde a infância.
De acordo com a pesquisa, desenvolvida pelas psicólogas Cláudia Rosi Sbaraini e Lígia Braun Schermann, da Universidade Luterana do Brasil, em Canoas (RS), ser do sexo feminino, estudar em escola pública, ter pais com baixa escolaridade e que não moram juntos e vivenciar relações familiares ruins e vínculos sociais frágeis são fatores associados ao estresse na infância. No artigo, as autoras – que aplicaram questionários aos pais e aos próprios alunos – relatam que crianças com estresse costumam apresentar cansaço e dores de estômago e de cabeça.
As duas psicólogas salientam ainda que, se o estresse não for eliminado nem adequadamente tratado, ele tende a persistir também durante a vida adulta, o que pode conduzir a problemas como depressão, hipertensão e doenças de pele. “Alguns pesquisadores classificaram o Brasil como o segundo país mais estressado do mundo”, destacam Cláudia e Lígia no artigo.
Os resultados do estudo apontam para uma significativa diferença entre meninos e meninas em relação ao estresse. Enquanto 15,4% deles foram diagnosticados com o problema, o percentual ultrapassou os 20% entre elas. “As garotas neste estudo podem ter apresentado uma tendência maior a desenvolver os sintomas do estresse por várias razões. Como a média de idade dos alunos foi de cerca de 10 anos, muitas das meninas podem estar no início da puberdade, que ocorre, em geral, dois anos antes para elas. Durante essa fase, muitas mudanças psicológicas e emocionais começam a acontecer e isso pode gerar estresse”, dizem as autoras no artigo. “Além disso, outras demandas podem causar estresse para as garotas, visto que elas, em geral, têm que ajudar no trabalho doméstico e nos cuidados com os irmãos”.
As pesquisadoras avaliaram alunos de 8 a 14 anos e foi no grupo com idade superior a 10 anos que o estresse se mostrou mais freqüente, possivelmente porque estes alunos mais velhos já tinham sido reprovados pelo menos uma vez na escola. A repetência – bem como o sentimento de fracasso e as conseqüentes cobranças da família e da escola – pode ser uma causa de estresse. Por outro lado, conforme lembram as autoras no artigo, o estresse também pode levar à repetência, uma vez que ele prejudica a aprendizagem das crianças.
Por fim, Cláudia e Lígia chamam a atenção para a importância dos vínculos sociais. “Crianças com contatos sociais fracos ou ruins são mais propensas ao estresse. Estas crianças são aquelas que têm poucos amigos fora do universo doméstico, não freqüentam a casa dos colegas e não fazem amizades na escola”, explicam no artigo. “Isso sugere que melhorar o contato social pode resultar em menos estresse”, concluem.
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