Nova espécie de hominídeo descoberta na África do Sul acende debate entre cientistas. Para alguns, trata-se de mais um australopiteco; para outros, é o ancestral imediato do gênero humano.
Agência FAPESP – Uma nova espécie de hominídeo foi descrita por um grupo internacional de pesquisadores em dois artigos que ganharam a capa da edição desta sexta-feira (9/4) da revista Science.
Liderados por Lee Berger, da Universidade de Witwatersrand, na África do Sul, a espécie, denominada Australopithecus sediba, foi classificada a partir de fósseis descobertos no sítio arqueológico Berço da Humanidade, a 40 quilômetros de Johannesburgo.
Os fósseis têm quase 2 milhões de anos e prometem provocar grande polêmica entre os cientistas. Para alguns, trata-se apenas de mais um australopiteco. Mas, para outros, o A. sediba seria forte candidato a ancestral imediato do gênero Homo.
“Sediba, que significa fonte natural em soto, uma das 11 línguas oficiais da África do Sul, é um nome apropriado para uma espécie que pode ser o ponto a partir do qual o gênero Homo surgiu. Acredito ser essa uma boa candidata para a espécie de transição entre o Australopithecus africanus e o Homo habilis ou até mesmo o Homo erectus”, disse Berger.
Os fósseis, de um macho jovem e de uma fêmea adulta, foram depositados em uma mesma faixa sedimentar e, segundo os cientistas, em momentos (morte) próximos.
O formato avançado da pelve e dentes pequenos são algumas das características que tornam o A. sediba forte candidato a ancestral direto do gênero Homo. Segundo Berger, a nova espécie compartilha mais características com os primeiros Homo do que qualquer outra espécie de australopiteco descoberta até o momento.
A espécie tinha postura ereta e teria sido capaz de correr como um humano, de acordo com a análise feita. Tinha também braços longos, característicos dos australopitecos.
“Estimamos que eles tinham cerca de 1,27 metro, embora a criança certamente teria crescido mais. A fêmea pesava em torno de 33 quilos, e o macho, 27 quilos. Os cérebros são pequenos, quando comparados com o cérebro humano, mas seu formato aparenta ser mais avançado do que os dos australopitecinos”, disse Berger.
Os esqueletos parciais foram preservados grudados em um sedimento duro como concreto e exigiram quase dois anos de trabalho para serem extraídos e examinados. Análises e datações comparativas foram feitas em laboratórios na Suíça e na Austrália.
Os registros foram encontrados em uma caverna junto com fósseis de pelo menos 25 espécies de animais, entre as quais um tigre dente-de-sabre, hienas, cães selvagens, antílopes e um cavalo. Pela quantidade de animais, os cientistas sugerem que o local poderia ter funcionado como uma armadilha natural para aqueles que procuravam água.
Uma curiosidade é que o primeiro fóssil, um dos crânios, foi encontrado pelo filho de Berger, Matthew, então com 9 anos, que acompanhava o pai em uma expedição ao local.
Os artigos Australopithecus sediba: a new Species of Homo-like Australopith from South Africa (doi: 10.1126/science.1184944) e Geological setting and age of Australopithecus sediba from Southern Africa (doi: 10.1126/science.1184950), de Lee Berger e outros, podem ser lidos por assinantes da Science em http://www.sciencemag.org/.
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