Escrito por Waldemar Rossi
Nos primeiros meses do ano de 2003, os movimentos sociais se organizaram criando uma coordenação nacional e durante alguns meses, em constantes encontros e debates, elaboraram uma proposta alternativa para a política econômica do governo Lula.
Naquele momento havia unanimidade entre os vários movimentos de que tal política estava equivocada, que ela respondia aos interesses do capital e que era nociva ao povo brasileiro, principalmente para os trabalhadores.
A linha central de tal pensamento era que o Brasil estava precisando de amplos investimentos governamentais em setores prioritários para atender às necessidades do seu povo. Entendiam os representantes desses movimentos que tais investimentos internos iriam ocasionar um desenvolvimento econômico e social nacional, gerador de postos de trabalho e da necessária distribuição de rendas. Esta, por sua vez, seria a principal alavanca para diminuição progressiva da grande exclusão econômico-social que atinge a mais de 70 milhões de cidadãos, além de impulsionar a arrancada definitiva no sentido do corte do cordão umbilical que nos mantém atrelados aos humores do predador capital internacional.
Os principais setores a serem então contemplados, porque estratégicos, conforme a Coordenação dos Movimentos Sociais, seriam: a Reforma Agrária; um programa de construção de moradias populares através prioritariamente dos mutirões (considerando uma carência habitacional em torno de onze milhões de unidades); as reformas dos sistemas de saúde e da educação públicas; o saneamento básico (água e esgotos tratados e canalizados para todos os municípios do Brasil); o desenvolvimento de um sistema de transporte ferroviário coletivo e de cargas, em dimensão nacional; uma política de preservação do meio ambiente, entre tantos outros setores importantes para a qualidade de vida do nosso povo.
Embora seus bons efeitos pudessem ser sentidos com alguma demora, havia a convicção de que a população mais carente teria chances imediatas de trabalho produtivo e remunerado, gerando, por conseguinte, o processo de sua ascensão, passo importante para sua libertação definitiva das amarras dos coronéis e dos exploradores da miséria alheia deste país.
Tal desenvolvimento nacional daria ainda aos nossos governantes um trunfo de peso para negociar com a política externa, sem ficar, como já dissemos, dependente dos humores do capital, pois, pelo seu potencial incomparável, o Brasil não tem nenhuma necessidade de se prostrar constantemente aos pés de países imperialistas. Poderia impor relações políticas e comerciais maduras, tendo ao seu lado o apoio de comunidades latinoamericanas, além de outras.
Mas o governo brasileiro virou as costas para os movimentos sociais, se enroscou com "seus novos aliados" e jogou o país em uma aventura bem maior do que já o tinha feito o governo tucano. Acontece que o capital está de "mau humor" e vomitando o fel de sua bílis pra cima dos trabalhadores de todos os países que se submeteram à sua lógica espoliadora. Como previam os movimentos sociais, as incoerências e desmandos do capital estão levando para os países, incluído o Brasil, o desequilíbrio de suas políticas internas e, pior ainda, cobrando para que os governos tirem dinheiro do orçamento público e o transfiram para garantir um superávit elevado das empresas privadas, sempre mais gananciosas e inescrupulosas. Esse é o resultado do alinhamento e da submissão às orientações e ordens do capital neoliberal. Passando por cima das necessidades e exigências dos povos, governos se venderam e aceitaram ser dependentes de sua lógica nefasta.
O Brasil está metido nisso até o pescoço, retirando mais dinheiro do precário orçamento interno e entregando-o de mãos beijadas para banqueiros, industriais e agentes do agronegócio. Lula usa da eloquência dos seus discursos e de sua popularidade - alavancada pelos meios de comunicação - para enganar o povo, falando meias verdades, lançando um otimismo falso que impede o povo de entender em profundidade a gravidade da crise internacional e de como ela nos leva para um buraco cada vez mais profundo.
Lula entrou por um caminho equivocado, desde antes do início de sua primeira gestão, quando compôs um governo recheado de tucanos representantes do capital financeiro, sabe que está no erro, mas, como está comprometido porque se submeteu às várias formas de cooptação e corrupção neoliberal, não se dispõe a fazer as mudanças com as quais o povo sempre sonhou.
Se errar é humano, como nos ensina o antigo provérbio, persistir no erro é burrice. Ou é revelação do quanto faz para se manter ao lado dos espoliadores.
Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.
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