Em entrevsita espcial ao Jornal Pagina 20, Raimundão abre o verbo contra Vanderley que se define na TV como um cão violento e ex-vereador adverte para a possibilidade de derramamento de sangue na campanha eleitoral
“Na campanha passada, eu era um vara-lata. Agora sou um pitbull. Se cuidem!”. A declaração, em tom de ameaça, foi feita na semana passada pelo prefeito de Xapuri, Wanderlei Viana (PPS), num programa de TV em que ele comenta as eleições passadas e se apresenta para a próxima campanha como candidato à reeleição. A expressão “vira-lata” seria referência ao fato de, na época, em 2004, ele não ter mandato. “Pitbull” é, portanto, a definição canina de um homem investido de poder e se preparando para uma nova campanha.
Num programa de TV clandestino no qual ele viola a grade de programação da TV retransmissora do SBT (Sistema Brasileiro de Televisão) em Xapuri, com olhos vermelhos, dentes rangendo e trejeitos nada recomendados a um governante eleito pelo voto popular, o prefeito vem demonstrando que está muito longe da sanidade mental. Ou de fato assimilou a personalidade da raça de cão a que se referiu.
O cão a cuja raça o prefeito xapuriense se comparou está associado à violência e a ataques cada vez mais freqüentes, incluindo seus donos. A agressividade da raça não é natural, defendem os criadores. Estaria associada à criação ruim e a um gene recessivo.
O tal gene, dizem os defensores da raça, pode atingir qualquer cão, independentemente de raça, mas que pode ser controlado a partir de criadores responsáveis, que devem estudar os cruzamentos e ter a consciência de não confiar exemplares a pessoas com perfil psicológico desviado.
O pitbull tinha reputação de cão leal e confiável durante as primeiras décadas do século passado. Nos últimos anos, contudo, essa imagem mudou. É considerado um animal extremamente violento, assassino de crianças e “merecedor” de banimento em alguns países. A raça é uma das quatro mencionadas especificamente na Lei de Cães Perigosos de 1991, no Reino Unido - as outras três são o fila brasileiro, o tosa japonês e o dog argentino.
Antes de se definir como cão, o prefeito xapuriense era conhecido pela alcunha de “Cotoco”, por ter desenvolvido, desde criança, a arte de ofender usando as mãos. Com o dedo-pilas, conhecido popularmente como o maior-de-todos, ereto e em forma de objeto fálico, o popular cotoco é uma ofensa porque, com a mão nessa posição, lembra um pênis humano em ereção. Embora antipático, o gesto se tornaria folclórico e o termo cotoco seria incorporado à identidade do prefeito. Contudo, depois que retornou ao cargo após amargar o ostracismo político por uma década - chegou a ser inclusive preso em flagrante pela polícia por uso e tráfico de entorpecente -, Wanderlei Viana agora usa as mãos para esmurrar adversários e até aliados.
A delegacia de polícia de Xapuri acumula mais de uma dezena de denúncias de pessoas que se dizem espancadas ou ameaçadas pelo prefeito, incluindo um de seus irmãos. É por isso que o ex-vereador Raimundo Mendes de Barros, o “Raimundão”, candidato petista derrotado na eleição vencida por Viana em 2004, está preocupado com a futura campanha eleitoral xapuriense.
Ele acha que o prefeito, em termos e violência, reúne os genes de cães perigosos, principalmente do pitbull, e a fúria própria tocada ao tóxico do qual ele é usuário.
“É o mínimo que a gente pode dizer um homem que age dessa forma. É só a Justiça requerer as fitas da TV de Xapuri para ver a violência com a qual ele age”, disse “Raimundão”, que está em Rio Branco em busca de providência contra o prefeito por entender que, se algumas medidas não forem adotadas, as eleições municipais xapurienses este ano podem ser uma tragédia, “inclusive com derramamento de sangue”.
Para “Raimundão”, o clima em Xapuri 20 anos depois do assassinato de Chico Mendes é praticamente o mesmo do período em que era tramado o assassinato do sindicalista - coincidência ou não, na mesma época em que Wanderlei Viana exerceu seu primeiro mandato como prefeito. É sobre o clima em Xapuri e o temor pelo derramamento de sangue que “Raimundão” fala na entrevista a seguir:
Você considera a declaração do prefeito de que é um pitbull uma ameaça?
Raimundão – Eu acho que é de fato uma ameaça e dirigida não só a mim, mas também a toda a população de Xapuri. É no mínimo estranho um administrador fazer uma declaração desse tipo num canal de televisão.
Quando e como foi feita essa declaração?
Raimundão – Ele disse isso na semana passada. Ele usa um canal de televisão, o SBT, no qual diariamente se apresenta, a pretexto de divulgar seu trabalho à frente da prefeitura, termina exagerando e partindo para xingamentos e agressões. É uma autêntica esculhambação em horário nobre, durante mais de meia hora. Nesse dia em que se definiu como pitbull, ele inicia sua fala agredindo os vereadores. Ele disse: “Eu quero avisar que vocês não ousem tentar me prejudicar. Do contrário, eu vou abrir meu baú e dizer o que cada um de vocês é. Estou avisando porque tenho bala na agulha. Se na campanha passada eu era um cão sardento, um vira-lata, eu estou avisando que agora sou um pitbull”. Foi isso o que ele disse. Eu entendo isso como uma ameaça porque, como a gente sabe, o pitbull é um animal feroz, capaz de matar o próprio dono.
Você, que concorreu e perdeu as eleições passadas para ele, se sente particularmente ameaçado pelo prefeito?
Raimundão – Não só eu como toda e qualquer pessoa de Xapuri que ousar questionar o prefeito e seus métodos. O prefeito não é um ser humano normal. Nos últimos dias, ele tem conseguido umas máquinas e está anunciando que vai construir ramais e abrir estradas. O homem passou os últimos três anos só brigando, agredindo as pessoas, dando cotoco, andando bêbado nas ruas. Agora, como é candidato à reeleição, conseguiu essas máquinas e vem entrando na Reserva Chico Mendes a pretexto de construir ramais. Se o ramal sair é bom para os companheiros que vivem lá. É uma necessidade que os companheiros do seringal Nazaré têm. O problema é que ele não respeita nada, nem a legislação ambiental nem as pessoas, faz tudo de forma truculenta, sempre dizendo que os ramais não foram feitos por culpa da gente, de nós do PT. O problema é que, como ele não vem respeitando as exigências do Ibama e da legislação ambiental, os ramais estão ameaçados de ser embargados e ele faz divulgar lá na reserva, através de um capacho conhecido por Motinha, que somos nós que estamos impedindo fazer os ramais. Coisa de gente irresponsável. É uma tentativa de incitamento dos companheiros contra a gente. Ele não quer abrir ramal.Quer, na verdade, é chamar a atenção do Ibama e colocar os companheiros contra a gente. Se o objetivo fosse o de atender as necessidades dos companheiros, ele tinha cuidado, nos três anos anteriores, de realmente trabalhar e fazer as coisas dentro da legalidade.
E esse negócio do espaço na televisão, onde ele fala diariamente, isso não é ilegal?
Raimundão – Nós entendemos que isso é ilegal e que nem a direção do SBT sabe que seu sinal em Xapuri está sendo interrompido para que o prefeito possa fazer política na TV. O que me preocupa é que a ilegalidade está ocorrendo todos os dias e ninguém toma providência. Quem é agredido é a população de Xapuri com aqueles gestos agressivos, aquela violência verbal, de descompostura, de palavras de baixo calão. Acho que esse tipo de coisa requer a observação do Ministério Público na comarca.
O fato de o prefeito ter esse comportamento e ninguém tomar providências não é porque há um pouco de respaldo da população em relação a ele?
Raimundão – A verdade é que a população deu um mandato a ele. Por ter sido eleito, talvez ele se sinta hoje no direito e fazer todos os tipos de agressões. É claro que em Xapuri há pessoas que recebem algo para ajudá-lo a agir assim; outras se omitem por medo.
Medo ?
Raimundão – Sim, medo! As agressões do prefeito realmente intimidam as pessoas. A prova disso é que em Xapuri não há greves ou manifestações contra o prefeito, mesmo a população tendo motivos de sobra para se manifestar. Ninguém se manifesta porque sabe que o prefeito vai, pessoalmente, sair no braço contra as lideranças, contra as pessoas que questionam sua administração. Ele já bateu no irmão em pleno gabinete, em radialistas, em professores, em funcionários públicos, em sindicalistas. Ele só consegue ter estabilidade na administração dele e o próprio trânsito livre na base do terror, da intimidação.
Mas, apesar disso, há informações de que, em pesquisas de opinião pública em relação às próximas eleições, ele é bem avaliado. Como explicar isso ?
Raimundão – Eu tenho dúvidas quanto à veracidade dessas pesquisas. É muito cedo para ]avaliar quem está melhor em relação às eleições. Sei que lá há muitos candidatos. O nosso, da Frente Popular, é o companheiro Bira. Tem o Marcinho, tem o Manuel Moraes e outros, e acho que essas pesquisas em que o prefeito aparece bem avaliado são feitas pela gente dele.
Quer dizer então que o clima em Xapuri agora é o mesmo daquele período da morte do Chico Mendes?
Raimundão – Não há diferença. Eu tenho dito que o clima em Xapuri só não está pior, o que é a nossa sorte hoje, é porque o prefeito não tem o governo do Estado do lado dele. Se o prefeito tivesse o governo do lado dele, que prestigiasse o comportamento dele e que lhe desse apoio, ele estava fazendo pior do que fez na época do Chico Mendes.Todo mundo é sabe que, naquela época, quando ele exercia seu primeiro mandato de prefeito, ele era um dos que travavam e com certeza tem envolvimento no assassinato do Chico.
Ele teve participação no crime? Qual seria sua participação?
Raimundão - A participação dele, conforme amplamente divulgado na época, consistia no apoio e no oferecimento da logística, inclusive da prefeitura, para apoiar as ações dos inimigos do Chico e de todos nós. Não é à toa que o carro da prefeitura - uma Pampa - era utilizado para o transporte das pessoas que atentavam contra os trabalhadores liderados pelo Chico. Ele era prefeito e fazia constantemente provocações ao Chico e era o aliado número um dos Alves [Darly e Alvarino Alves, irmãos acusados de articular o assassinato do sindicalista]. Tinha inclusive uma filha do Darly como sua secretária e fazia reuniões contra o Chico numa área que ele dizia ser dele, a colônia “Minha Deusa”, onde hoje está a fábrica de preservativos. Aquela região, aliás, foi invadida e grilada por ele. Pois bem. Naquela localidade, a morte do Chico foi tramada muitas vezes em reuniões da qual o prefeito participava. É por isso que eu digo: se ele tivesse hoje, como teve na época na pessoa do governador Flaviano Melo, o governo do lado dele, a situação estaria bem pior em Xapuri.
O senhor acha que ele partiria para a eliminação física ?
Raimundão – Eu não tenho nem dúvidas. Ele devota ódio mortal a gente e só não volta a partir para a eliminação física porque sabe que nós temos aliados fortes. Os atos dele dentro do seringal Nazaré contra a minha pessoa e contra o vereador Cicilio são prova disso. Ele quer os trabalhadores se levantando contra a gente.
O senhor teme por derramamento de sangue na campanha eleitoral?
Raimundão – Temo, sinceramente, porque conheço o prefeito de muitos anos e sei que ele é capaz de qualquer coisa para tentar se manter no poder. É um homem que não mede as conseqüências do seus atos e está desesperado. Por isso é perigoso.
Ele saiu ou foi expulso do PMDB, por onde foi eleito e que, apesar de suas contradições, não o suportou. Qual o partido que o abriga agora?
Raimundão – Quando deu para o PMDB expulsar o seu único prefeito de suas fileiras é porque a coisa não é de brincadeira. E o que me preocupa é que o PPS, que se diz um partido ético, dê guarida a um homem com esse perfil. É algo a ser avaliado pela população em relação aos demais candidatos dessa sigla.
O senhor acha que seria o caso de convocar tropas federais para cuidar da eleição em Xapuri?
Raimundão – Vamos estudar isso com nossos companheiros. A princípio, eu concordaria porque a situação em Xapuri é muito ruim. Só quem vive lá, quem vive a política lá, sabe do que estou falando, e é preciso que providências sejam tomadas É um alerta que estou fazendo.
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