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sexta-feira, 22 de maio de 2009

Reforma Ortográfica: Aspectos Dicotômicos

Como sabemos a partir deste ano, embora ainda não obrigatória, está valendo a reforma ortográfica da língua portuguesa em oito países que falam o português (Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Timor Leste). A obrigatoriedade se dará do ano de 2013 para frente. No Brasil, mesmo que a mudança na grafia de nossas palavras não tenha sofrido tanto impacto como em Portugal, sabe-se que não foi tão bem vinda, no entanto, é bom, desde já, os brasileiros irem se acostumando com as transformações ortográficas; mais que uma simples mudança, as reformas parecem uma tradição. É a terceira vez, em menos de 65 anos, que a ortografia, para os brasileiros, é modificada: a primeira ocorreu em 1943 e foi duramente combatida por intelectuais de todo o País, a citar um dos maiores filólogos da língua portuguesa, Napoleão Mendes de Almeida, que a considerava ilógica. Entre os nomes que não aceitaram a reforma da década de 40, ostenta-se o do parnaibano Jonas Fontenele da Silva, então membro-fundador da Academia Amazonense de Letras e um dos três pilares que representava a trindade de ouro do simbolismo piauiense. Em soneto, demonstrou sua amargura:

A ortografia nova é o meu tormento!
Ela tem mil caprichos de mulher.
“Escreva torto e leia quem puder”!
Aconselhou-me um velho rabugento...

Sempre toda palavra tem um acento,
Todo cuidado a acentuação requer.
Procurei um vocábulo qualquer
No Dicionário e – foi baldado o intento!

A palavra “sómente” não existe
No dicionário de Antenor Nascentes,
Na segunda edição – parece chiste. –

Pertence aos “nomes feios” e indecentes?
E eu escrevi? Eu me arrependo, triste,
Quase arrastei na lama os meus parentes!...

Em 1971 veio a segunda reforma e agora em 2009 a terceira, silenciosa e sorrateiramente. O Brasil, como dito, já a emprega, mas os países da África que falam nosso idioma ainda não marcaram data para iniciarem a mudança. Para nós, “lingüiça” era com o “u” sendo pronunciado, agora, não mais existe o sinal diacrítico, o trema, e restará aos nossos netos apenas a tradição oral dessas palavras; nesse ritmo, a geração seguinte, cansada de decorar as palavras que deverão ser pronunciadas como se existisse o sinal que anunciaria a pronúncia puxada do “u”, não tardará a baixar o decreto: “fica correta tanto a pronúncia com o ‘u’, como sem”; o que será aceito em unanimidade.

A avaliação que se faz não traz apenas uma visão pessimista em relação ao caminho que a língua portuguesa tem trilhado nas últimas décadas. Da mesma forma que podemos reconhecer que certas mudanças, antes de ocorrerem, já eram lógicas (emprego das letras k, w e y), algumas, embora sujeitando-nos a uma mudança de impacto, melhoraram, em muitas, o emprego de certas regras, a citar, a hifenização, também devemos expor a tendenciosa justificativa de que o português era a única língua do mundo não unificada e que tal reforma uniria as diversas nações; blefe, pura ilusão. O remédio, agora empregado, servirá, por pouco tempo, apenas como um singelo “analgésico”. Não estamos a falar de países próximos, muitos menos de continentes de cultura e economia equiparadas. Portugal enquadra-se entre os países desenvolvidos, o Brasil no grupo dos emergentes, e os países da África, aqui já citados, são nações que enfrentam sérios problemas com a pobreza e a fome, logo, nos é sabido: os fatores econômicos têm forte influência nos aspectos culturais; assim, tomando por base a língua como cultura, chega-se ao denominador de que quanto mais as culturas estiverem dispersas, mas distantes estarão as chances de uma unificação vernácula. A unificação, sim, ocorrerá, mas para apenas uma pequena parcela de cidadãos, ou seja, a elite intelectual dos países aderentes à reforma.

É mais do que lógica a constatação de que o Brasil, na sua condição de país “meio-termo” (em desenvolvimento), está sendo o menos prejudicado com o impacto dessa mudança. Finalizo esta breve análise com a citação de um dos mais respeitados nomes do estudo filológico da última flor do Lácio, Napoleão Mendes de Almeida (1911-1998): "Se os aracnídeos têm épocas e lugares de reprodução, as pragas lingüísticas estão libertas das estações do ano e das limitações geográficas".

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